Nobel da Paz de 1992, defensora dos direitos indígenas luta pela preservação etno-cultural e da natureza

“Eu sou filha da pobreza e da desigualdade social, eu sou um caso ilustrativo de marginalização por ser maia e mulher, ter sobrevivido ao genocídio e à crueldade”, define-se a guatemalteca Rigoberta Menchú, reconhecida como uma das principais defensoras dos direitos indígenas, hoje não só na Guatemala, mas no Hemisfério Ocidental em geral, ganhadora de vários prêmios internacionais, incluindo o Nobel da Paz de 1992.

Presente no II Fórum Global de Sustentabilidade, realizado no Brasil durante a última edição do festival de música SWU, a ativista se posicionou contra a polêmica construção da usina de Belo Monte, no Pará. “Belo Monte é uma relação comercial que se impõe acima da vida racional da natureza”, disse Rigoberta, pois acredita que a obra não afeta apenas os indígenas, mas toda a humanidade. Segundo afirmou em entrevista reproduzida pelo site www.movimentogotadagua.com.br, “as ações que vão acontecer lá não poderão resultar em um genocídio. As pessoas têm que denunciar e defender aquilo que tem que ser defendido”.

Filha de indígenas camponeses do ramo Kiche da cultura Maya, Rigoberta nasceu em 1959 e, desde criança, ajudava no trabalho de agricultura familiar. Através da religião católica, ainda adolescente, ela se envolveu nas atividades de reforma social e destacou-se no movimento de defesa dos direitos das mulheres. Mas a família Menchú, acusada de participar de uma organização de guerrilha e, depois, como integrante do Comitê da União Camponesa da Guatemala, foi destruída. Sobrevivente, Rigoberta viu irmão, pai e mãe serem torturados e mortos pela opressão militar.

Cada vez mais ativa na CUC, ela passou a liderar manifestações dos trabalhadores agrícolas por melhores condições e, em 1981, juntou-se à Frente Popular, contribuindo para a educação da população camponesa indígena na resistência ao regime militar. No mesmo ano teve que se exilar no México, onde teve início de uma nova fase de vida, como organizadora no exterior da resistência à opressão na Guatemala e na luta pelos direitos humanos dos índios camponeses.

Em 1983, a escritora Elisabeth Burgos Debray publica o livro “Eu, Rigoberta Menchú”, que conta a história de sua vida em depoimento tocante, que atraiu a atenção internacional. Em 1986, Menchú tornou-se membro do Comitê de Coordenação Nacional do CUC, e no ano seguinte ela se apresentou como narradora de um filme poderoso chamado “Quando as Montanhas Tremem”, sobre as lutas e sofrimentos do povo Maya. Em pelo menos três ocasiões ela voltou à Guatemala para defender a causa dos índios, mas ameaças de morte a forçaram a voltar ao exílio.

O Prêmio Nobel – Com candidatura apoiada pelo arquiteto, escultor e ativista dos Direitos Humanos argentino, Adolfo Perez Esquivel, ele também ganhador do Nobel da Paz, em 1980, Rigoberta Menchú foi laureada em 1992, em reconhecimento ao seu trabalho pela justiça social e reconciliação etno-cultural baseada no respeito pelos direitos dos indígenas, coincidindo com o quinto centenário da chegada de Colombo à América, e da declaração de 1993 como Ano Internacional dos Povos Indígenas.

Em seu discurso na cerimônia de premiação, alegou direitos históricos negados aos povos indígenas e denunciou a perseguição sofrida desde a chegada dos europeus à América, quando terminou uma civilização desenvolvida em todas as áreas do conhecimento. Refletiu também sobre a necessidade de paz, desmilitarização e justiça social no seu país, a Guatemala, e a importância do respeito pela natureza e da igualdade para as mulheres.

O prêmio lhe permitiu continuar com trabalhos como a criação da Iniciativa Indígena pela Paz. Foi nomeada Embaixadora da Boa Vontade da ONU para o Ano Internacional dos Povos Indígenas na Conferência Mundial dos Direitos Humanos de Viena, na Áustria. Em 1996, foi nomeada Embaixadora da UNESCO.

Presidente da Fundação Rigoberta Menchú Tum, já recebeu dezenas de reconhecimentos nacionais e internacionais, como a de Comandante de grau máximo da Legião de Honra francesa, e mais de 30 Doutorados Honoris Causa de universidades pelo mundo.

Seu compromisso com a Guatemala foi reconhecido quando chamada a participar da assinatura de acordos de paz entre a Unidade Revolucionária Nacional e o governo, sendo nomeada embaixadora desses acordos até 2007. Nesse mesmo ano, foi candidata à presidência de seu país, mas não venceu.

Casada e mãe de um filho, a indígena e sobrevivente de genocídio Rigoberta Menchú – também polêmica, por alguns fatos questionáveis incorporados à sua biografia – busca a observância de um código de ética para uma era de paz como sua contribuição para a humanidade.

Fontes: www.nobelprize.org ; www.rigobertamenchu123.blogspot.com ; www.frmt.org
Fotos: Reprodução / Rino Bianchi (BW) / Nobelprize.org