Mostra no IMS do Rio tem cerca de 400 itens reveladores do universo do cineasta italiana

Pôster de A doce vida, 1960 Coleção Fondation Fellini pour le cinéma, Sion © Reporters Associati, Rome

Fotografias de bastidores, desenhos feitos pelo próprio diretor, revistas de época, cartazes, entrevistas e trechos de filmes compõem a mostra, que exibe muitos documentos inéditos. Com curadoria de Sam Stourdzé, diretor do Musée de l’Elysée, em Lausanne, na Suíça, a retrospectiva chega ao Brasil graças à parceria entre SESC e Instituto Moreira Salles, já tendo passado por Paris, San Sebastián, Moscou e Toronto. A mostra será exibida em São Paulo, no Sesc Pinheiros, em julho deste ano.

Paralelamente à exposição Tutto Fellini, o IMS-RJ apresenta uma mostra de filmes dedicada exclusivamente à produção do cineasta, entre eles seu primeiro longa Mulheres e luzes (1950), e também As noites de Cabíria (1957)Os palhaços (1970)A estrada da vida (1954)Julieta dos espíritos (1965)Abismo de um sonho (1952)Ginger e Fred (1986)Oito e meio (1963). Até o final da exposição, toda sexta-feira, às 14h, um filme da mostra será comentado por um especialista e terá entrada franca. Além disso, o IMS recebe a programação do festival É Tudo Verdade.  Veja a programação completa do cinema aqui.

Construída como uma espécie de laboratório visual, a mostra favorece o diálogo entre imagens estáticas e em movimento. Seguindo um percurso pontuado pelas obsessões de Fellini, a exposição investiga o século XX do diretor: o século do cinema, claro, mas também o da imprensa, das mídias, da televisão, da publicidade, ou seja, das imagens. A montagem não segue um padrão cronológico, nem filmográfico, e sim temático. Dessa forma, Tutto Fellini é dividia em quatro núcleos:

1. Cultura popular: a mostra exibe seus primeiros trabalhos como caricaturista, iniciado quando, no final dos anos 1930, Fellini deixa Rimini, sua cidade natal, e parte para Roma. Desenha para jornais satíricos comoMarc’Aurelio420 e Travaso. Passa a escrever roteiros para vários diretores, entre eles Roberto Rosselini. Em 1950, codirige com Alberto Lattuada seu primeiro filme, Mulheres e luzes. Para criar o seu segundo longa, Abismo de um sonho (1952), Fellini se apropria da fotonovela. Esse e outros elementos da sociedade italiana no pós-guerra, que sempre permearam a obra de Fellini, são encontrados nesse núcleo da mostra: os desfiles religiosos ou políticos; os jantares (e a sátira ao excesso de espagueti); o circo, que pautou sua produção desde Mulheres e luzes até Os palhaços (1970); a mídia – para seus filmes, Fellini produzia peças publicitárias que faziam uma paródia à sociedade italiana, como os outdoors de Ginger e Fred (1986); quadrinhos – a exposição exibe uma fotonovela com Marcello Mastroianni interpretando o papel de Mandrake, o Mágico (inspirado na história de Lee Falk) e também a HQ A viagem de Giuseppe Mastorna, projeto antigo do diretor para um filme nunca terminado publicado na revista Ciak, na década de 1990.

O público também poderá conferir fotos de anônimos que se candidatavam aos papéis de seus filmes. Fellini também guardou imagens de uma jovem atriz italiana que, procurando sucesso, fez um striptease no Rugantino, casa noturna badalada da época. As fotos foram publicadas em vários jornais e inspiraram o cineasta a escrever a cena em que atriz Nadia Gray tira a roupa em A doce vida(1960). O filme aborda, entre outros assuntos, o nascimento das publicações sobre celebridades. E é a partir dele que se passa a usar o termo paparazzi, já que o fotógrafo Paparazzo (Walter Santesso), que acompanhava o repórter Marcello Rubini (Marcello Mastroianni), perseguia os famosos para conseguir boas fotos.

Federico Fellini ensaia com Marcello Mastroianni durante a filmagem de A doce vida, 1960 Fotografia de Pierluigi Coleção Fondation Fellini pour le cinéma, Sion

2. Fellini em ação: esse núcleo da mostra explora o trabalho de Fellini por trás das câmeras. São imagens que revelam sua relação com sua equipe de cenógrafos; com o Studio 5, da Cinecittà, onde filmou a maior parte de suas produções; a escolha da trilha sonora e sua célebre parceria com Nino Rota; a direção de arte – Fellini trabalhou por muitas vezes com Piero Gherardi, com quem ganhou dois Oscars –; e o roteiro. Mesmo com muito improviso nas filmagens, Fellini era rodeado por uma equipe de grandes roteiristas, que o acompanharam por muito tempo, como Ennio Flaiano e Tullio Pinelli. Em 1956, o então poeta que se tornaria grande cineasta Pier Paolo Pasolini trabalhou no roteiro de Noites de Cabíria.

3. A cidade das mulheres: serão apresentadas ao público os vários tipos de mulher presentes nos filmes de Fellini. Prostitutas, mães, femme fatales, ninfomaníacas etc. Além disso, ganharão homenagens as atrizes que se tornaram divas, como Anita Ekberg (de A doce vidaBoccaccio 70Os palhaços eEntrevista), Anna Magnani (Roma de Fellini) e Giulietta Masina (Mulheres e luzesAbismo de um sonhoA estrada da vidaA trapaçaNoites de Cabíria,Giulietta dos espíritos e Ginger e Fred), com quem Fellini se casou em 1943.

Giulietta Masina no papel de Gelsomina, A estrada da vida, 1954 Coleção Fondation Fellini pour le cinéma, Sion

4. A invenção biográfica: nesta seção o público poderá rever imagens das visões de alguns personagens dos filmes de Fellini (como as que Snàporaz, alterego do diretor interpretado por Marcello Mastroianni, tem no filme Cidade das mulheres), além de conhecer o Livro dos sonhos, reunião de desenhos feitos por Fellini durante 30 anos (entre 1960 e 1990) a partir de seus sonhos.

 A exposição Tutto Fellini foi organizada com o apoio da Fondation Fellini pour le Cinéma (Sion, Suíça), Fondazione Federico Fellini (Rimini, Itália), Carlotta Films (Paris, França), Cineteca di Bologna (Bologna, Itália), Fondation Jérôme Seydoux-Pathé (Paris, França) e Gaumont (Paris, França). Segundo o curador, a mostra evidencia que “o que interessa a Fellini não é a realidade em si, e sim a percepção da realidade. Parece que, com seus filmes, ele quer nos dizer que o cinema é um instrumento intermediário entre a realidade e a percepção que temos dela”. A exposição integra o calendário do Momento Itália/Brasil 2001/2012.

:: Serviço ::

Exposição Tutto Fellini

Instituto Moreira Salles Rio de Janeiro

Exposição: de 11 de março a 17 de junho de 2012
De terça a sexta, das 11h às 20h
Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h
Entrada franca
Classificação livre
De terça a sexta, às 17h, visita guiada pelas exposições. Ponto de encontro na recepção.
Visitas monitoradas para escolas: agendar pelo telefone (21) 3284-7400.

A curadoria é de Sam Stourdzé, diretor do Musée de l’Elysée, em Lausanne, na Suíça, que fará uma palestra aberta ao público sobre a exposição no dia 12/4, às 20h, no auditório do IMS. E entrada é gratuita e os lugares são limitados.

Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
Tel.: (21) 3284-7400/ (21) 3206-2500