Não há duvidas que quando falamos de vinhos tintos temos duas uvas que representam extremos opostos e que dividem muitos corações em todo mundo.

De um lado a Cabernet Sauvignon, conhecida como a rainha das uvas e que é representada em quase todas as regiões do mundo. Uma uva versátil que conseguiu produzir grandes tintos em todos os continentes. Potente, muscular e austera.

Do outro lado a Pinot Noir a mais ‘complexa’ das uvas no quesito adaptação. Só em alguns poucos terrenos fora da Borgonha se consegue produzir vinhos de alto gabarito com essa intrigante uva. Delicada, elegante, expressiva e com muita finesse.

Pois bem, a Syrah – também conhecida como Shiraz em alguns países do novo mundo – possui a potência e a profundidade do Cabernet Sauvignon (sem aqueles quase indomáveis taninos) e os aromas explosivos e sutis complexidades da Pinot Noir. Normalmente os vinhos a base dessa uva são vendidos por menos que os equivalentes de suas rivais e, em adição, por sua sensibilidade ao terroir (palavra que inclui solo e condições climáticas) produz diferentes tipos de vinhos dependendo de sua origem.

Já na década de 80 os americanos previam que a Syrah seria uma grande uva para o novo milênio. Em 1990 na Califórnia existiam pouco mais 140 hectares plantados desta uva. Doze anos mais tarde a área de Syrah tinha atingido um pouco mais de 6.400 hectares, um crescimento aproximado de mais de 4.000%.

Hoje a Syrah continua sendo um ícone da viticultura francesa depois de uma injusta desvalorização após o meio do século 20. Para quem não sabe o único vinho no mundo que fazia sombra aos grandes Bordeaux no inicio do século 20 era o grandíssimo Hermitage, feito com essa uva e produzido nos arredores da cidade de Tain-l’Hermitage. à beira do Rio Rhone. A Shiraz é a bandeira da Austrália, país que hoje lidera a importação de vinhos em alguns mercados de alta importância no cenário mundial. A Austrália é líder em volume e renda no mercado inglês, o mais competitivo do mundo.

Além de França e Austrália a Syrah tem alcançado resultados muito interessantes na Argentina, Chile, Espanha, Itália, Portugal, África do Sul e Estados Unidos dentre outros.

Dos destaques de Syrah/Shiraz provados ultimamente destaco 9 vinhos de 7 países diferentes que mostram o valor e o potencial dessa uva.

O Syrah Single Vinyeard El Olivar 2007 da Viña Viu Manent do Chile, do Valle de Colchagua, é sem dúvida um dos mais concentrados tintos a base da Syrah provados ultimamente. Com uma explosão de aromas e com uma persistência na boca que dura muitos segundos. Para os apaixonados por vinhos intensos, vai aqui uma grande dica.

Syrah El Olivar Single Vineyard

O simpático Jose Miguel Viu, proprietário da Viu Manent

Vinhedo El Olivar da Viu Manent- Colchagua, Chile

O incansável proprietário de uma das mais belas vinícolas do Vale de Uco em Mendoza, a O.Fournier, José Manuel Ortega, produziu na safra 2004 o fabuloso O. Fournier Syrah. Talvez esse seja o melhor Syrah produzido em nosso continente. Se procurar essa garrafa e achar, compre correndo, pois é mesmo uma raridade.

O.Fournier Vista de entrada bodega

Bogea O.Fournier com os Andes ao Fundo

Amanecer na bodega O.Fournier com neve

Mudando de continente, indo da América do Sul para a Europa, começamos com Portugal. Ainda não disponível no Brasil degustei em visita recente a Portugal, o delicioso Esporão Syrah 2008, produzido no Alentejo pelo enólogo Australiano David Baverstock. Um vinho intenso, aromático e que mostra o quanto versátil essa uva pode ser, produzindo vinhos com muita alegria na juventude e que podem envelhecer. A boa noticia é que esse vinho estará chegando ao Brasil nos próximos meses.

Syrah plantado na Herdade do Esporão em pleno Alentejo, Portugal

Na Itália, a Syrah tem sido plantada em diversas regiões e obtendo excepcionais resultados, principalmente na Toscana. Na Sicilia também temos bons exemplares. O Syrah destaque da bota é o maravilhoso Il Bosco do Tenimenti Luigi D’Alessandro. Nesse caso provamos recentemente o 2004 e o 2006. O 2004 mais raro de se encontrar é mais fino e elegante, enquanto o 2006 é potente e muito encorpado. Dois vinhos espetaculares.

Da vizinha Espanha tivemos o privilégio de degustar pela segunda vez o imponente Pago La Garduña Syrah 2004, da renomada casa Abadia Retuerta. Digo segunda vez, pois na primeira o vinho estava fabuloso e 3 anos depois estava ainda melhor, mais equilibrado e profundo. Um vinhaço colecionável produzido na região de Sardon Del Duero.

Pago Garduña da Abadia Retuerta, o mais famoso Syrah da Espanha

Na França, precisamente ao norte do Rhone, essa casta é quem manda. Temos 3 sub-regiões que se destacam na produção de excepcionais Syrah, a saber Côte-Rotie, Hermitage e Cornas. As duas primeiras são mais famosas, mas é da terceira que temos os mais profundos Syrah puros do planeta. Destacamos duas jóias dessa impressionante Appelation d’Origine Controlee. O mais sério e maduro Cornas Les Ruchets 2004 do mago Jean-Luc Colombo e o hiper jovem Cornas 2007 do gênio Auguste Clape. Dois vinhos para quem quer conhecer e entender o que a casta Syrah pode propiciar em termos de presença, elegância e equilíbrio.

Vinhedo de Cornas - Jean Luc Colombo

Cornas Les Ruchets do Mago Jean Luc Colombo

Por ultimo, da terra dos Cangurus, que adotou a Shiraz como cepa Flagship, tive a oportunidade de provar pela 1ª vez em minha vida um dos mais importantes vinhos da Austrália, o Clarendon Hills Astralis da safra 2007. Esse tinto produzido no McLaren Vale pelo perfeccionista Roman Bratasiuk, na região Sul do Pais, está sempre entre os melhores vinhos do mundo. Esse tinto é produzido a partir de 100% Shiraz de vinhas com mais de 90 anos de idade. Absurda sensualidade nos aromas. Um conjunto aromático inesquecível. Gustativamente estava fabuloso, intenso e muito refinado. Esse é mesmo um fenomenal Shiraz…

Um dos 100% Shiraz mais importantes do mundo, o ícone Astralis

Roman Bratasiuk em seu vinhedo centenário de shiraz