Já ouviu falar sobre Pošip, Rebula ou Plavac Mali?  Agora temos no Brasil grandes vinhos da Eslovênia e Croácia

Vista aérea do canal de Pelješac que separa Orebić e Ilha Korčula, na Croácia

Não foram muitas garrafas provadas, somente quatro, mas mesmo com essa pequena amostra já podemos dizer que Croácia e Eslovênia estão no mapa mundi do vinho. O mais delicioso de poder escrever sobre vinhos é mesmo a diversidade e a infindável oportunidade de conhecer não só o vinho, mas tudo que cerca a cultura milenar da produção desse abençoado líquido. Por ter a oportunidade de acompanhar a trajetória da indústria do vinho e, claro, provar muitos vinhos, posso afirmar que o mais fascinante é chegar a conclusão que esse é um assunto que não se esgota, impossível de conhecer tudo. Francamente algum de vocês já tinha ouvido falar da casta vinífera Pošip, Rebula ou Plavac Mali? Pois hoje vamos falar um pouquinho delas e de seus incríveis vinhos.

Para nos situarmos, Bálcãs é o nome histórico e geográfico da região sudeste da Europa que engloba Albânia, Grécia, parte da Turquia na Europa, Romênia, Bulgária, além das repúblicas que compunham a ex-Iugoslávia: Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro, Macedônia, Sérvia e, desde fevereiro de 2008, Kosovo. Praticamente todos esses países produzem vinhos e posso garantir que a maioria dos brasileiros, como eu, nunca provaram ou provaram pouquíssimas vezes vinhos desses países. Na coluna de hoje vamos mergulhar um pouco no “mundo dos vinhos” de dois maravilhosos países: a Eslovênia e a Croácia.

A Eslovênia e os vinhos de Marjan Simčič

Esse pequeno país europeu cuja população hoje é de pouco mais de 2 milhões de habitantes faz fronteira com Áustria (Norte), Hungria (leste), Croácia (leste e sul)  e pelo mar Adriático (oeste). Ao longo da história, a Eslovênia fez parte do Império Romano, Império Bizantino, da República de Veneza, Ducado da Carantania (o atual norte esloveno), Sacro Império Romano-Germânico, Monarquia de Habsburgo (é assim mesmo que escreve?), Império Austro-Húngaro, Estado dos Eslovenos, Croatas e Sérvios, Reino da  Iugoslávia e da República Socialista Federativa da  Iugoslávia de 1945 até finalmente conquistar sua independência em 1991. Desde maio de 2004 faz parte do Mercado Comum Europeu (Euro).

O dedicado Marjan de frente para seus vinhedos

Os vinhos desse país eram, até a 2ª guerra mundial, produzidos por grandes cooperativas. Em 1967 foi lançado um projeto para a produção de vinhos de qualidade. Vinícolas privadas começaram a emergir na década de 70. Hoje a Eslovênia tem 24.600 hectares de vinhas plantadas de maneira fragmentada por todo o país. Cerca de 75% da produção anual é de vinhos brancos e o país tem um impressionante consumo per capita: 37,34 litros.

Vinhedos da Família Simčič na Croácia

Além dos vinhos da região de Goriška Brda, onde estão os vinhedos da família Simčič e que vamos abordar abaixo, a Eslovênia possui outras importantes regiões vitinícolas, com destaque para Prodavje (a mais continental dentre todas) e a pequena Posavje, essa última especializada em castas francesas.

Cacho da especial Rebula

Recém chegados ao Brasil os vinhos Marjan Simčič são muito especiais. A casa Simčič está entre as mais especiais desse pequeno país, sendo hoje considerada por muitos críticos como a grande referência de qualidade da Eslovênia. Marjan, da quinta geração de viticultores, assumiu o comando da vinícola em 1988. A região de Goriška Brda é uma porção da renomada região do Collio na Itália, uma terra de imensa vocação para grandes vinhos, com solos de marga calcária, um clima moderado pelo sol e ventos mediterrâneos. Para terem uma idéia de quão italianos podem ser considerados esses vinhos, a distância que separa a comuna de Brda até Gorizia, principal cidade do Collio Italiano, é de apenas 15 quilômetros. Hoje a casa possui 18 hectares de vinhedos trabalhados naturalmente, já há alguns anos sem emprego de nenhum fertilizante ou pesticida químico, com uma produção anual de 90.000 garrafas, em 3 linhas: Classic, Selekcija e Opoka, num estilo  bem logrado entre o antigo esloveno, com longuíssimas macerações e exposição ao oxigênio, mas com o frescor e limpeza da enologia moderna.


O gostoso Pinot Noir Selekcija 2008

Provamos o fresco Simčič Rebula 2009, produzido a partir da casta Rebula, também conhecida como Rumena Rebula, que é a mesma casta que a Ribolla Gialla. Essa casta é encontrada em plantações nas DOC (dominazione de origine controlata) do Collio (Gorízia) e Colli Orientali Del Friuli  (Udine), bem como logo após a fronteira, na Eslovênia, onde muda de nome. Denso, com boa acidez, boa carga mineral (sílex), leves tons frutados (maça verde) e uma deliciosa nuance cítrica. Não é um vinho com marca doce, é bem seco. Uma bela experiência para quem aprecia vinhos brancos secos e com muita personalidade. Excelente companhia para um presunto cru, de preferência da vizinha San Daniele, do Friuli.

O tinto que provamos dos  Simčič foi o Pinot Noir Selekcija 2008 (não vem com o Selekcija descrito no rótulo). De médio corpo apresenta cerejas maduras nos aromas com inusitados tons cítricos. Em boca é fresco e equilibrado. Seu final é gostoso. Um tinto muito bem feito. Não é um Pinot Noir típico, mas uma bela opção para quem quer conhecer tintos diferentes.

A Croácia, suas castas inusitadas e os vinhos Korta Katarina

A Croácia é um país europeu com pouco mais de 4,5 milhões de habitantes, cujo território apresenta uma forma peculiar, parecida com uma ferradura, com um número considerável de países vizinhos: Eslovênia, Hungria, Sérvia, Montenegro e Bósnia e Herzegovina, além de uma fronteira marítima com a Itália no Adriático. O litoral croata é bastante recortado, com penínsulas e baías, com mais de 1000 ilhas que formam uma paisagem semelhante à da costa grega. Hoje esse país é destino certo para o turismo de quem aprecia lindas praias e que leva o apelido de Nova Riviera. O país é membro das Nações Unidas, da OTAN e do Conselho da Europa. A adesão da Croácia à União Européia deverá acontecer em 01 de Julho de 2013. Confirmada a adesão, a Croácia será o segundo país formado a partir do território da ex-Iugoslávia a pertencer a União Européia (Euro), depois da Eslovênia em 2004.

Vinícola Korta Katarina a beira do Mar Adriático, Orebić - Croácia

Os Gregos e fenícios introduziram a viticultura nesta região do Adriático. Hoje o país possui 61.000 hectares de vinhedos, com uma produção anual de 1,2 milhões de hectolitros. O consumo per capita é de 26,95 litros. O interior da Croácia é responsável por 2/3 da produção do país e sua produção concentra-se nos brancos (cerca de 90%) com destaque para os brancos produzidos a partir de Riesling Itálico (Graševina), Gewürztraminer, Pinots, Chardonnay, Riesling, Furmint (Moslavac), etc.

Na Croácia costeira temos as regiões de Istria, da Costa Croata e da Dalmácia (Dalmatia). Na Istria predominam as castas bordalesas e as locais Teran e Malvazija. Na Costa Croata reina a branca local Žlahtina. Na Dalmácia nascem os grandes vinhos do país (70% da produção é de vinhos tintos).

Cachos da Plavac Mali, importante casta dos tintos Croatas

A Plavac Mali é a casta dominante nessa região que gera tintos grandiosos nos vinhedos Dingač e Postup na península de Peljesac. Os Brancos de Pošip, Grk e Bogdanuša também se destacam em ilhas como a de Korčula. A Crljenak Kaštelanski, nome local da Zinfandel também tem presença na região. A Plavac Mali é fruto do cruzamento da Crljenak Kaštelanski (Zinfandel) com a local Dobričić. Essa casta produz tintos potentes (chegam a 17º de álcool) com caráter de frutas negras maduras, toques apimentados e especiarias.

A principal casta “branca” do país, responsável pela elaboração de grandes e sofisticados brancos é a Pošip, que é a rainha da Ilha de Korčula. Essa casta, autóctone da Dalmácia, produz quase sempre vinhos elegantes, com médio teor alcoólico (entre 12º e 13º de álcool) e boa carga de fruta.

A vinícola Korta Katarina (KK) foi fundada por um casal americano, que participou da reconstrução do país após a guerra civil, com o objetivo de ser a melhor vinícola da Croácia. Lee e Penny Anderson investiram na mais importante região croata para a produção de tintos na península de Pelješac, onde se localizam os “grand crus” de Dingač e Postup. São desses dois Crus onde os melhores exemplares da uva Plavac Mali são produzidos.  Os Anderson também produzem brancos com uvas proveniente da ilha de Korčula. A viticultura é totalmente natural e a vinificação emprega tecnologia de última geração, com longas macerações e períodos de amadurecimento.
Dessa casa provamos seus vinhos Flagship, foram eles o delicioso branco Pošip 2008 e o poderoso tinto Plavac Mali 2007. Não há o que contestar, pois esses dois vinhos são mesmo de classe mundial e fazem jus ao propósito dos proprietários, já alcançando o nível de melhor vinícola do país, por vários críticos internacionais.

Vinhas de Posip na Ilha de Korcula na Croácia

O KK Pošip 2008 é um branco sensacional. Aromaticamente é delicioso com boa presença de frutas de polpa branca, seguidos de toques cítricos e nuances florais. Buquê muito sensual e repleto de vida com uma marca mineral dos grandes brancos. Gustativamente é firme e guloso. Sua acidez é na medida e seu final de boca é fresco e duradouro. Um branco para quem quer entender que temos muita coisa além de chardonnays com madeira. Melhorou a cada minuto depois de aberto, até o último gole. Excelente para acompanhar frutos do mar. Casou perfeitamente com lagostins puxados no azeite. Vai muito bem também com crab (caranguejo) e mexilhões à provençal.

Dois Grandes Vinhos Croatas do produtor Korta Katarina

O KK Plavac Mali 2007 é mesmo um vinho fora da curva, em tudo que podemos imaginar. Logo como destaque vale ressaltar que esse potente tinto possui 15,5º de álcool. Seu primeiro ataque no nariz é mesmo de um vinho quente, encorpado, robusto. A fruta negra madura é muito presente com deliciosos toques herbáceos e um toque elegante do carvalho (estagia por 12 meses – 25% em barricas de carvalho francês e o restante nas mesmas barricas com um ano de uso). É um tinto marcado pela complexidade aromática que é complementada por deliciosos toques herbáceos e uma marca mineral impressionante. Seu final de boca é eletrizante e de certa maneira rústico, o que o torna ainda mais intrigante Um tinto de raça e estilo. Uma experiência deliciosa, principalmente para quem provou um vinho à base de Plavac Mali pela 1ª vez. Casou impecavelmente com costeletas de cordeiro grelhados acompanhadas de um tagliolini com manteiga trufada.

Os vinhos Marjan Simčič e Korta Katarina são importados para o Brasil pela Decanter- www.decanter.com.br