O ponto peculiar de cada ser humano diante da vida

Palavrinha complicada, essa, não? Mas é o que define oficialmente algo importante de se respeitar dentro das relações humanas: o jeito de ser de cada um, de gostar ou não das coisas e de reagir de forma diversa, muito além do puro preconceito ou da tendência de ser sempre do contra.

Na definição, idiossincrasia é “predisposição particular do organismo que faz com que cada indivíduo reaja de maneira pessoal à influência de agentes externos, como alimentos e medicamentos”. Mas assim como a palavra é difícil e distante, as pessoas têm uma dificuldade enorme de entender que alguém possa não gostar de algo que ela adora e que o paladar, entre outros pontos sensoriais, emocionais ou racionais, é marca pessoal.

Aliás, os que não respeitam as idiossincrasias tornam-se pessoas muito chatas, invasivas, insistentes, ao pressionar os outros sobre o que consideram o melhor, mesmo que uma maioria ache. Daí, para o odioso julgamento quando não atingem seu intento, é um pulo. Esse desrespeito aumenta quando sabores e possíveis prazeres estão na moda e assim se tornam obrigatórios, sob pena de alguém ficar inteiramente por fora.

Como culinária japonesa, por exemplo, que virou quase unanimidade, principalmente entre os jovens. Ótimo, ela é saudável, leve, nutritiva, engorda menos, é sofisticada. Mas, alguns (entre os quais me incluo) não suportam. E daí, qual é o problema? Porque um amigo tem que insistir a ponto de se tornar desagradável e atribuir essa aversão a um erro de escolha, quase uma falha de caráter?

Tudo bem que existe aquela postura boba do “não comi e não gostei” ou “nunca assisti e não pretendo” adotada por muitos comodistas, pelos que têm horror do novo, de qualquer introdução na rotina conhecida. Muitas vezes por medo de não entender como é o caso da arte, do campo intelectual. Quantos conheço que dizem não gostar de teatro ou dança, embora jamais tenha pisado os pés numa sala que exibia uma peça ou um balé?

Mas essa distinção se faz a partir de um mínimo conhecimento da pessoa e da composição da natureza humana. O teimoso de carteirinha, o do contra que sequer experimenta ou discute, não tem argumento, não apresenta qualquer elemento para uma discussão saudável. Ao contrário de quem realmente não gosta, não aprecia. Que explica os porquês ou, pelo menos, não demonstra resistência pura mas, sim, respeita suas preferências.

A vida fica muito mais leve e o convívio bem mais agradável, aliás, quando existe o respeito em nome da compreensão de que se todos gostassem do amarelo, o que seria do vermelho. E que o meu direito de convencimento termina no exato ponto em que o outro explica com tranquilidade as razões do não querer fazer, comer, compartilhar, assistir.

Idiossincrasias, gente. Que não são símbolos de mau gosto, de desperdício das boas coisas e, muito menos, prazer em ser diferente. Apenas idiossincrasias, ou melhor, o ponto peculiar de cada ser humano diante da vida.

Foto: Alessandra Przirembel Angeli