“O refúgio mais seguro no mundo é a liberdade de nosso ser.” Tarthang Tulku

Ao pensar sobre o tema simplicidade, deparo-me com opostos ou, antes, dilemas que se impõem. Justamente quando tentamos ou pensamos levar nossa vida de uma forma mais simples, encontramos dificuldades para nos ajustar a ela. Por exemplo, às vezes torna-se difícil para uma pessoa mudar um modo de vida baseado em consumo dispendioso de bens, vestimenta, restaurantes etc, ou tentar ser menos egoísta, pensando apenas em si ao invés de perguntar a si própria se realmente precisa de certas coisas naquele momento.

Esse questionamento implica em ajuste tanto físico quanto mental e isso não é assim tão fácil. E assim parece que quanto mais tentamos mudar nossos padrões, mais nos deparamos com desafios desse tipo.

É justamente com a ideia do simples, e não do simplista, que me vêm à mente as dificuldades para ultrapassar hábitos muito arraigados que bloqueiam nossas atitudes. O apego ao ego, o agarrar-se à noção do “eu sou”, exigem um autoexame interno, aliado aos ensinamentos dos grandes Mestres. Mais que isso, é preciso ter mente aberta, fé, devoção, além de sermos aplicados e insistentes no esforço de praticar as lições aprendidas, trazendo a teoria para a prática.

Uma vez que nos comprometemos conosco em nosso caminho espiritual, isto se torna quase uma meditação. Na verdade, aqui cabe um código de ética – ética esta consigo próprio.

Intuitivamente vamos nos tornando mais centrados, abertos e tranquilos quando seguimos esta voz interna. Por isso a responsabilidade de levar uma vida mais modesta em todos os sentidos. O que não significa que tenhamos que abdicar de nossas posses e bens. Tem a ver com a maneira como “enxergamos” o que temos e de que modo vivemos.

Devemos viver nossa vida pensando no aqui e agora e também planejando o futuro, porém cientes de que se por ventura alguma coisa vir a mudar, aceitaremos com o coração uma nova empreitada. Estamos todos sujeitos a intempéries de todo tipo. O aceitar com o coração é um caminho sábio de doação, de compaixão.

Reavaliar nossos conceitos, preconceitos e autoimagem libera uma energia interna e abre novos caminhos. Agir localmente e pensar globalmente é um ato de sabedoria, pois o que fazemos aqui se reflete muito longe de nós, na grande rede cósmica. Entregar-se a esta energia superior, eis a prática perfeita.

Fonte: A mente oculta da liberdade, de Tarthang Tulku

Foto acima: Ivone Santos –  I stop for photographs ©