Carros e vinhos, uma verdadeira paixão para muitos

O maravilhoso Rolls Royce Corniche

Cada vez mais o vinho passa a ser a paixão dos homens, também das mulheres, mas os mais aficionados pelo glamour e pelo desejo do consumo no mundo da vitivinicultura ainda são do sexo masculino. Esta paixão se alia a uma das mais latentes nos homens: a paixão pela velocidade, pela adrenalina dos cavalos de força, pelo poder que passam a ter ao possuir um veiculo diferenciado e muitas vezes único.

O carro é obsessão masculina em qualquer país do mundo, movimenta bilhões de dólares e quando falamos dos super carros, falamos às vezes do incompreensível em relação a cifras.

Pois bem o que encontramos em comum em um grande carro e um grande vinho?

Ambos são sonhos de muitos e poucos podem ter. O crescente interesse dos brasileiros por grandes vinhos me fez um dia desses passar por uma inusitada situação. Fui indagado por um amigo se um Romanee Conti valia o que custa. Naquele momento me veio à cabeça a máxima da comparação. Tenho formação em engenharia e gosto de fazer conta…Refleti “como posso responder esta pergunta de maneira simples?”.

Foi fácil, pois veio à minha cabeça uma das paixões do homem, o carro. Respondi que a diferença entre um grande carro para um carro bom pode alcançar até 75 vezes.

O mais desejado carro do Mundo, Bugatti Veyron

 

O vinho mais desejado do Planeta, O mítico Romanée Conti

Surgiu a explicação: uma Bugatti Veyron pode alcançar cerca de US$ 1.500.000 enquanto que um Honda City, bom veículo, pode ser comprado por US$ 20.000. Daí nascia a resposta. Se uma Bugatti Veyron pode custar 75 vezes o que custa o Honda City, um Romanee Conti pode custar US$ 8.500 (o mais barato – o da safra corrente – 2008), aproximadamente 75 vezes mais caro que um bom/excelente Barolo Bussia 2006 de Armando Parusso. Tudo isso com preços base Estados Unidos. Faz sentido. Não faz?

Depois deste dia, passei a prestar mais atenção a esta relação, que sempre será um paradigma quando abordarmos o assunto “paixão e desejo de consumo”. A paixão por estes “desejos” vão continuar sendo regadas pela imaginação do ser humano e em minha opinião nunca terão fim, pois se alguém pode gastar uma fortuna para comprar um carro, em apreciando um bom vinho, pode também “beber como os deuses”.

O próximo passo, quebrado o paradigma do valor, é partir para encontrar semelhanças entre estas duas inebriantes paixões. Quando pensamos em um grande carro, o que vem à cabeça é luxo, potência, elegância, conforto, glamour e muito, mas muito prazer. Pois bem, no vinho temos também esses mesmos sentidos.

Potência remete à modelos esportivos, marcados pela força. Neste grupo, para quem quer adrenalina, deve pensar nas Ferraris, Porsches e etc. No lado dos vinhos, os esportivos são aqueles que primam pela potência, substantivo que é usado pelos mais renomados críticos em vinhos, dentre eles o polêmico Robert Parker.

Nestes “vinhos” que vão de zero a cem em menos de cinco segundos, destaque para os super potentes. São normalmente vinhos elaborados à base de uvas que apresentam grande concentração e taninos muito presentes (*taninos são grupos químicos presentes na casca das uvas importantes no envelhecimento do vinho, particularmente o tinto. Os taninos presentes no vinho são oriundos, além da própria uva, da madeira dos barris de carvalho, onde o vinho é envelhecido antes de ser engarrafado).

O maravilhoso Rolls Royce Corniche

No moderno mundo do vinho temos cada vez mais vinhos potentes, que são verdadeiras obras de arte, mas carentes de ‘finesse’ e elegância.Aqui não quero dizer que uma Porsche e uma Ferrari não tem ‘finesse’ e elegância, mas por certo tem menos elegância que um Rolls Royce Corniche.

Os vinhos potentes, sonho de consumo de qualquer enófilo, são hoje em sua maioria os grandes vinhos de Bordeaux que com o passar dos anos estão mais apreciáveis quando jovens. Aqui vale um comentário. O famoso, opulento, majestoso e potentíssimo Mouton Rothschild perdeu anos atrás uma estrela no renomado guia francês Lê Revie du Vin, pois seu grupo de editores não apreciaram a sua recente característica, a early drinkibility, ou seja sua facilidade de ser apreciado jovem.

Rótulo do Mouton Rothschild 2004, com pintuta de sua alteza Principe Charles

Tive a oportunidade de degustar várias safras do inesquecível Mouton Rothschild e posso afirmar que um jovem 2004 pode ser apreciado hoje, sem nunca esquecermos de que tem muito por evoluir dentro garrafa. O ainda jovem Mouton 2004 é tão impactante quanto uma acelerada em uma Ferrari Enzo.

O bólido Ferrari Enzo

Ainda no grupo dos Bordeaux temos a margem direita do rio Garonne produzindo espetaculares vinhos à base de Merlot e Cabernet Franc.

O incrível Cheval Blanc 2000

Aqui encontramos dois dos mais consagrados e inesquecíveis vinhos do planeta: o super concentrado e riquíssimo Petrus, que causa controvérsia pelo preço proibitivo, mas que sem dúvida precisa de alguns anos em garrafa para mostrar suas grandiosas qualidades. E o vigoroso, encorpado e também riquíssimo Cheval Blanc, que por ser o melhor Cabernet Franc (uva predominante no corte) do planeta pode ser apreciado mais jovem que seu quase vizinho Petrus.

A única Ferrari Daytona

O Petrus pela sua raça só pode ser comparado a uma Ferrari Daytona, que apesar de muito potente para sua época, tem na sua quase exclusividade, a maior qualidade. Já o Cheval Blanc pode ser comparado facilmente a uma Porsche 911, pela sua espetacular explosão.

A sensacional Porsche 911GT3

No resto do mundo todos os países têm hoje suas verdadeiras máquinas em se tratando dos super vinhos, com concentrações impressionantes. Ainda na Europa temos os ‘super toscanos’, elaborados na sua maioria com uvas internacionais como a Cabernet Sauvignon e Merlot muitas vezes ‘cortada’ com a Sangiovese local. Temos também os incríveis Barbarescos e Barolos, produzidos no Piemonte à base da elegantíssima Nebbiolo. Destaque aqui para os fenomenais Solaia e Lupicaia da Toscana e os absolutamente vigorosos e eternos Gaja Sori San Lorenzo e Sori Tildin do Piemonte, que podem envelhecer por décadas. Recentemente degustei o Sori Tildin 1982 e posso afirmar que este vinho tem mais 20 anos de evolução dentro da garrafa…Uma experiência incrível e tão (ou mais!) impressionante quanto pilotar o Inglês Morgan conversível.

O sensacional e exclusivo Morgan

Cabelos para trás e muita adrenalina. A Espanha também apresenta suas recentes maravilhas, o Domínio de Pingus da Ribera Del Duero e o hiper concentrado da Bodegas Roda, Cirsion, que é um vinho que nasceu de um experimento de colheita manual de uvas, uma a uma, quase alçando sua polimerização.
(O mais cobiçado vinho americano, o Screaming Eagle Cabernet Sauvignon)
Do novo mundo temos os ‘garage wines’ da Califórnia como representantes da máxima potência que lembram quase um Dragster de tão encorpados, intensos e tânicos.

O mais cobiçado vinho americano, o Screaming Eagle Cabernet Sauvignon

Neste time, o raríssimo e caríssimo Screaming Eagle, seguido dos caríssimos, mas tangíveis, Dominus (produzido pelo mesmo produtor do Petrus da França), Beringer Cabernet Sauvignon Private Reserve, Abreu Madronna Ranch e o Caymus Special Selection, entre outros. Todos esses vinhos da excelente safra 2001 são absolutamente comparáveis a pilotar um Mustang da década de 1970 por sua potência, força e intensidade.

Da potência e força, vamos agora para a elegância e ‘finesse’. Não há como não apreciar o Rolls Royce Phanton ou uma Mercedes 600. Sem dúvida esses também têm potência e força, mas primam pelo equilíbrio. A adrenalina aqui é menos presente, mas a emoção pode ser ainda maior.

O sonho chamado Mercedes-S-600

Nos vinhos temos uma mudança radical, pois quando falamos em ‘finesse’ e elegância, falamos principalmente nos vinhos elaborados pela glória da Borgonha, a uva Pinot Noir. Os grandes Pinot Noirs são produzidos nesta região nos arredores da belíssima cidade de Beaunne. A Borgonha tenta ser imitada por várias outras regiões vinícolas do mundo, que às vezes chegam a excelentes resultados, mas nunca perto o suficiente para produzir vinhos com a mesma profundidade, finesse e elegância.

Rolls Royce Phanton

A maior de todas as estrelas é o já mencionado Romanee Conti, sem dúvida o Rolls Royce dos vinhos, que é seguido de perto por um sem fim de espetaculares pequenos produtores da região. Aqui temos Jaguars, Bentleys, Mercedes S500 para cima, BMWs serie 5 para cima…
Para quem quer viver uma experiência diferente tem que abstrair de tudo o que abordamos dos grandes vinhos acima e se concentrar em uma sensação de estar mesmo dentro de um Rolls Royce… É muito, mas muito diferente que estar em uma Porsche e você tem realmente que esquecer da potência (aquele zero a cem em menos de 5 segundos).

O extraordinário Domaine Dujac Clos de La Roche 2005

Quando abordamos um Clos de La Roche (pequena porção de terra ao norte de Beaunne, que produz um dos mais complexos Pinot Noirs do planeta ao lado dos grandes Vosne Romanee e Chambertin) podemos comparar esta maravilha a um reluzente Bentley Azurra. Dentre os pouquíssimos produtores desse espetacular Grand Cru destacamos  Dujac e Armand Rosseau.
Ainda no quesito ‘finesse’ e elegância podemos incluir os Bordeaux envelhecidos como o Chateau Margaux, Latour, Leoville Las Cases, Montrose e também os espetaculares Barolos e Barbarescos com mais de 20 anos de garrafa, tais como os fenomenais produtores Vietti, Giacomo Conterno, Bruno Giacosa e Luciano Sandrone.

O sensacional Barolo Villero Riserva 2001 da casa Vietti

Neste grupo os valores alcançam cifras muito altas e se tratam de vinhos de coleção. Muito difícil de serem encontrados e são comparáveis mesmo a verdadeiras relíquias como aqueles Cadillacs de 16 cilindros.
Pois bem, paixão por paixão, você pode escolher entre uma inesquecível garrafa de vinho ou uma máquina de 500 cavalos. A diferença aqui é decidir entre a garagem e a adega e entre o que é sempre presente e o que fica somente na lembrança depois de degustado. O que não podemos deixar de entender é porque aficionados e colecionadores dispõem de quantias inimagináveis para comprar tanto a maravilha líquida quanto estas máquinas movidas a uma, também, boa gasolina.