Fotógrafa, mãe, esposa, empresária, idealizadora de sonhos e construtora de caráter

Marina Klink - Itaparica 2013

Antes de ser Marina Klink, ela é Marina Bandeira. Fotógrafa, mãe, esposa, empresária, idealizadora de sonhos e construtora de caráter: esses são apenas alguns aspectos da esposa do navegador Amyr Klink que, depois de uma bronca do marido, resolveu tirar da gaveta suas fotografias e lançar o fantástico livro Antártica: A Última Fronteira (Editora Brasileira, 200 páginas, R$ 80,00).

Antártica - A última fronteira

Tive a oportunidade de conhecer Marina durante a organização de um evento na Unesp de Bauru. A convidei para integrar uma mesa sobre o que chamo de “fotografia de aventura”, ou o que na verdade é fotografia de natureza. Simpática, extrovertida e com muitas boas histórias (sim, isso deve ser um dom de família), ela chamou a minha atenção e de todos os presentes por esse aspecto humano e apaixonante tanto nas suas imagens – afinal, retratar a vastidão branca da Antártica não é para todos – e nas experiências e histórias que ela passou para o público.

Nascida em São Paulo, Marina sempre esteve envolvida com a natureza, os esportes de aventura e a fotografia. Ela foi uma das pioneiras no voo livre com asa delta, e desde muito pequena teve essa relação com as câmeras. “Desde criança acompanho meu pai, que fotografava por hobby. Naquela época era preciso fotografar, revelar e ampliar em casa, uma vez que não haviam laboratórios de fotografia pela cidade. Eram usados filmes preto e branco e naquela época acompanhávamos o momento mágico de ver a imagem surgindo num papel molhado”, ela relembra. “Fotografo desde pequena, desde que que ganhei uma câmera com negativo 110. Isso aconteceu junto com a criação dos laboratórios 1 Hora. Gastava minha mesada em ampliações e álbuns e quando comecei a trabalhar, pude investir em equipamentos profissionais”.

Marina se tornou colaboradora de veículos com fotografias e teve suas imagens publicadas em jornais como O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, e as revistas National Geographic Brasil, Discovery Channel, Tam Magazine e Náutica, entre outras. Mas ela nunca fez disso sua receita financeira – até agora.

Marina Klink - Destaque

EXPERIÊNCIAS AUTÊNTICAS

Marina fala que a nossa vida é feita de escolhas, e ela precisou decidir qual carreira profissional deveria seguir ao término do colegial. Ela ficou dividida entre a biologia marinha e o curso de relações públicas. Como ela gostava de fazer a intermediação da família por meio de cartinhas, optou pela carreira de RP e se tornou uma eficiente realizadora de eventos.

Ela criou um ateliê de eventos e seu foco sempre foi em criar experiências autênticas. Num desses eventos, o cliente pediu que ela trouxesse alguém para dar uma palestra, e ela pensou no nome de Amyr Klink. Era 1985 e ele havia acabado de voltar da travessia do Atlântico e lançado o livro Cem Dias Entre Céu e Mar. Ela relembra que tudo o que ele pediu foi um microfone e um copo d’água. Quem leu algum dos livros de Amyr sabe como é apaixonante suas histórias – e somando a isso essa simplicidade na hora da produção de um evento, ele virou figurinha repetida no que era organizado por Marina.

E, bem, deu no que deu… Casados, eles possuem três filhas: as gêmeas Laura e Tamara e a caçula Marina Helena.

Um dia, Marina resolveu conhecer o que tanto atraía Amyr naquela solidão branca. Ela foi para a Antártica pela primeira vez no verão de 1994/1995 depois que conheceu uma russa que tinha trabalhado em um navio e lhe disse que era possível visitar a Antártica sem ser em uma expedição. Existem embarcações adaptadas para o turismo polar, e ela embarcou num navio russo. Na tripulação, existia um grupo de espanhóis que estava fazendo um especial para uma TV espanhola.

Marina Klink - Antártica

Ela conta que a viagem “foi incrível! O verão favoreceu e foi possível cruzar o Círculo Polar Antártico. Navegamos para o sul até alcançarmos a Baía Margarida”. Foi lá que ela teve uma experiência única e que a marcou para sempre. “Desembarcamos e na volta ao navio nos deparamos com uma grande baleia jubarte no trajeto. A baleia começou a nos seguir e especificamente ela rodeava o bote em que estávamos como me procurando. Ela se aproximava com insistência e chegou tão próxima a mim que pude toca-la no rosto. O toque foi rápido, mas um sentimento muito intenso tocou fundo dentro de mim. Aquela foi uma viagem transformadora. Sinto que estabelecemos um contato tão estreito, como que querendo passar uma mensagem de proteção”.

Marina Klink - Baleia

Existem instantes que normalmente mudam a vida das pessoas. Esse foi um dos que marcou a vida de Marina. Ela comenta que esse contato estabeleceu uma espécie de compromisso entre ela e a natureza, representada na forma da baleia. “O que faço hoje é justamente uma consequência daquele compromisso: tento trazer a natureza para dentro da vida das pessoas”.

Marina comenta que, na vida, precisamos sempre sentir “experiências autênticas” – é isso que a motiva na idealização de seus eventos, e é isso que a motiva como pessoa. Essas experiências sempre foram registradas por suas lentes, e a maioria das fotos ficavam guardadas.

A família Klink saiu numa expedição para a Antártica no verão de 2009/2010, e Marina estava tirando fotos na cadeirinha no alto do mastro do barco Paratii. Ventava muito, mas ela não largava a sua Canon e ficava lá, fotografando. Amyr sempre pareceu ser uma pessoa bem disciplinada e exigente com a segurança dos seus tripulantes. Ele pedia para que ela descesse, mas ela respondia que não, já que queria tirar uma fotografia e tinha uma nuvem fechando sua visão.

Família Kink

Esse foi o momento em que ela teve um start. Amyr disse: “Desce daí, Marina! Essas suas fotografias não vão servir para nada”. Ela ficou bem magoada, mas aquilo serviu para que ela repensasse o que estava fazendo com seu talento: do que adiantava correr tantos riscos – ficar horas firme com a câmera da mão, caminhar com excesso de luz, enfrentar uma tempestade de neve… – para guardar as imagens na gaveta?

“Foi naquele instante que decidi me dedicar profissionalmente a fotografia”, ela conta, dizendo que a ideia de realizar um livro surgiu nesse momento. Ela também diz que estabeleceu uma outra relação com o mundo da fotografia, associando seu conteúdo a um banco de imagens internacional e cadastrando-se junto aos veículos de comunicação mais respeitados do mercado. “Hoje, quando me pedem uma fotografia me pagam pelos arquivos. Essa para mim é uma conquista”.

Marina Klink

O resultado final do livro é espetacular. Antártica: A Última Fronteira é um belíssimo livro de fotografia, construído com muito carinho e talento. Com o acervo em mãos, Marina foi atrás de uma editora e firmou uma parceria com a Editora Brasileira, que enquadrou o projeto na Lei Rouanet. Foram dois anos para conseguir apoio financeiro e viabilizar o projeto. Ela diz que a seleção de imagens foi a parte mais cruel. “É difícil abrir mão de imagens boas por uma limitação física do número de páginas, mas é um trabalho que deve ser feito. A gente tem que sacrificar muitas imagens boas, infelizmente. Quem sabe fica para um próximo…”.

“APRENDER PARA ENSINAR”

Além de ter sido transformada pelo encontro com a jubarte e pela bronca do marido, um terceiro momento de sua vida é importante: quando ela decidiu levar as filhas para conhecer onde o pai passava meses longe. Em 2006, ela achou que elas estavam prontas e disse a Amyr que queria levá-las para a Antártica; ele ficou surpreso mas concordou, achando que era uma boa ideia.

“Nos preparamos para isso e fomos. Chegar na Antártica é como um sonho. Muitos riscos no caminho, mas é o preço que se paga para se chegar ao paraíso. Cruzar o Drake é como um pedágio”, ela conta. “Ao chegar lá um novo mundo se abre. Mas eu não imaginava que as meninas não compreenderiam sua magnitude. Por isso, procurei despertar a curiosidade delas para a vida que existia ali. Fiz disso um bom motivo para irmos mais 6 vezes. Por sorte elas se interessaram pela biologia naquele bioma e passaram a falar disso com muita naturalidade. Procurei aprender para ensinar. E procuro ensinar para elas multiplicarem o meu conhecimento. Esse percurso segue por caminhos muito distantes de nós… Invade escolas e a vida de outras pessoas que nem conhecemos. E é isso que me traz a gratificação do meu empenho e a certeza de estar trilhando por um caminho certo”.

Marina Klink - Pinguins

Antes da segunda viagem que a família fez para a Antártica, Marina sugeriu para a escola que os dias de falta fossem encarados como uma viagem de pesquisa, uma “viagem de estudo do meio”. Ela conta que a escola acabou “aceitando o desafio e compartilhou da ideia comigo. Aquela viagem foi encarada de forma diferente. Foram muitas anotações e registros, e acabou fazendo sucesso na escola”.

Foi com essa experiência que tudo mudou: “Notei que o conhecimento delas estava cada vez mais amplo e que elas poderiam ensinar muito para outras crianças, como por exemplo o quanto era importante elas ensinarem sobre a fragilidade da vida nos polos da Terra e que todas as vidas estão interligadas – mesmo aqueles animais que vivem muito distante de nós”.

As meninas começaram a contar em suas salas de aula suas experiências. A coisa fez tanto sucesso e tomou outros rumos, sendo apresentado em outras salas, outras escolas e em eventos abertos. Num dessas apresentações, uma pessoa da plateia se apresentou dizendo ser editora e que tinha interesse em transformar a apresentação das Irmãs Klink num livro. E o projeto foi em frente. A mãe organizou o conteúdo e cada uma das meninas escreveu sua parte. “Juntei tudo e preenchi o que faltava. Pronto! O livro está aí: Férias na Antártica (Grão Editora, 72 páginas, R$ 42,00), escrito pelas 3 irmãs, e já está na 5ª edição em 3 anos. Quanto às palestras das meninas, já supera a primeira centena”.

Clique na imagem abaixo para saber mais sobre o livro das irmãs Klink!

Irmãs Klink

Ela fica orgulhosa do rumo que tomou esse projeto. “Ao contabilizar as palestras e os livros, pensando em todas as carinhas de crianças interessadas que pude ver, encantadas pela Antártica e perguntando como poderiam salvar as baleias, sinto que todo o meu esforço valeu”, ela diz, orgulhosa. “Acho que era isso que aquela baleia que um dia se aproximou de mim queria me dizer. Seja como for, sinto que meu compromisso está se cumprindo. E valeu a pena!”

Marina continua na sua inspiradora rotina de fotografia, mãe e esposa. De amante da natureza e hábil manipuladora das lentes. Como iniciante na fotografia, pergunto o que ela sente o que deve ou não fotografar durante suas viagens. E ela responde de forma concisa e reflexiva: “A fotografia é uma forma de expressão. É como escrever uma poesia. Não tem um momento preciso. A gente sente”.

Ela completa dizendo que a fotografia “é a impressão de um instante. É congelar um momento. É fixar o tempo. É uma mágica e, além disso, ganha mais força porque podemos mostrar um instante que aconteceu com a gente para outras pessoas. Claro que me orgulho de cada vez que apertei o obturador; principalmente quando essas imagens podem ser compartilhadas através de um veículo, e acabam sendo vistas por muita gente”. Também pergunto qual a foto que ela mais se orgulha de ter feito, e ela responde que sabe que tem feito boas fotografias, mas “sinto que melhor é a que ainda vou fazer. E é isso que me motiva a ir sempre além”.

Marina Klink - Horizonte

Seus objetivos futuros incluem a montagem de outras exposições fotográficas, já que essas mostras juntas pessoas interessadas e unidas por um sentimento comum: o amor da natureza.

Marina sabe que a fotografia tem um grande impacto social, assim como o trabalho que ela desenvolve com as filhas, os valores que passa para elas e o que as meninas repassam com as pessoas que atinge em suas palestras. Quem já viu uma fala de Marina sabe como ela  trabalha com esse conceito de vida, felicidade e ter vivências verdadeiras e experiências autênticas com as coisas simples e intocáveis da vida – como a natureza, a convivência familiar ou o hábito de fotografar.

E é na fotografia que Marina Bandeira Klink encontra sua turma e consegue compartilhar com os outros o que vê e se surpreende. Ela encerra dizendo que “está tudo conectado: através das fotos busco emocionar. Através das minhas filhas, procuro informar os mais jovens, através desse esforço levanto uma bandeira: a bandeira da preservação da vida”.

Assista abaixo a apresentação de Marina no TEDx Tombo:

::Para saber mais::

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Conheça mais sobre o trabalho de Marina em seu site oficial.

Visite também o site das Irmãs Klink para conhecer o trabalho delas e ficar de olho nas datas de palestras e outros eventos.

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Marina Klink - Iceberg

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