Quem pensa entende melhor as suas escolhas pela vida

Certa vez assisti a uma entrevista do ator Malvino Salvador, para mim, até então, um belo galã de novelas com seu “shape” em cima; falava ele da montagem de uma peça de Sam Shepard, “Mente Mentira”, a Marília Gabriela. Um tanto revoltado, proclamava à entrevistadora que se arriscou na produção de um texto difícil, complexo, na tentativa de poder levar as pessoas ao questionamento. E insistia, exaltado: “Marília, as pessoas hoje têm preguiça de pensar, precisamos lutar em contrário”.

Não sei quando ele descobriu isso, mas é a saga de todos os que trabalham ou se envolvem com o intelecto, a arte, a filosofia; numa luta absolutamente inglória e quase sempre desprezada como cultura inútil. Quem consegue, neste país, vencer profissionalmente, ou pelo menos obter um resultado satisfatório dentro de um campo cultural, é, realmente, um herói.

Parece que está entranhado na alma tupiniquim que essa alegria, cordialidade, simpatia e vibração que nos caracterizam não combinam com um papo cabeça, com um ensaio mais profundo do pensamento. Além evidentemente das falhas de educação e da total falta de estímulo dos que comandam.

Sempre digo para quem vê – mesmo que não fale dá para perceber no olhar e na atitude – o filosofar com um elitismo intelectual bobo e sem valor, que não se filosofa em comportamento humano para estar acima ou se postar de erudito, mas para poder viver, gente!

Viver de uma maneira um pouco menos sofrida, mais inteligente, menos presa às ninharias e buscando entender minimamente a maravilha que é o ser humano em confronto com o inóspito do mundo. Filosofia é trivial! E pensar, um deslumbramento de simplicidade.

O filósofo alemão Nietzsche afirmava que “para muitos, pensar é uma tarefa fastidiosa; para mim, nos momentos de lucidez, o êxtase maior e a mais deliciosa diversão”. Só que o pensamento não interessa à Sociedade Utilitarista que tudo faz para afastar as pessoas dele. Do contrário, elas se tornam mais exigentes, amplas, lúcidas, seletivas. O que não interessa nada ao consumo e à manipulação.

Vocês já pararam para avaliar o privilégio que é o pensamento? O poder pensar de uma mente saudável e interessada? E o quanto se liga à liberdade? Pelo pensamento e a exploração de nossas ideias vamos a qualquer lugar, chegamos ao destino mais distante, atingimos o mais alto do esclarecimento, abrimos o que parecia inatingível, nebuloso.

Por outro lado, são muito mais divertidas e agradáveis as pessoas que pensam e assim desenvolvem a inteligência e o senso de humor. Renovam o papo, chamam para pontos esquecidos, brincam, tentam trocar e não ficam no mesmo assunto banal e naquela repetição exasperante. Melhor, não falam só delas e de seus problemas. O mesmo Nietzsche já dizia: “Os inteligentes falam de idéias, os médios de coisas e pessoas e os medíocres só falam de si mesmos”.

Pensar é fazer arte assim como não se faz arte sem pensar. E, principalmente, quem pensa entende melhor as suas escolhas pela vida; luta por conduzir-se ao invés de ser dominado e levado pelas circunstâncias do início ao fim da existência.