A jovem senhora que eu não conhecia, embora simpaticamente dissesse ler assiduamente meus textos, pediu ajuda numa loja, dia desses, para escolher um presente de aniversário para um cunhado, desculpando-se pela invasão.  “Sou um total desastre, sempre dou o presente errado, por mais vontade que tenha. Você acredita que há pessoas que não levam jeito para escolher ou vê como insegurança ou falta de gosto?”, perguntou-me num tom bem humorado, o que levou a um papo rápido e gostoso enquanto a vendedora oferecia um café.

Realmente, dar um presente é uma pequena arte. Fora do repetitivo “o que vale é a intenção” ou aquela frase horrível que, muitas vezes, usamos para agradecer, por cerimônia ou desarticulação “não precisava se incomodar”. Aliás, estou tentando conter isso; lógico que não se pode considerar um incomodo e sim, um carinho, uma gentileza, o prazer de oferecer. Dizer que foi incomodo chega a ser indelicado, por mais que não seja essa a vontade, é claro.

É legal quando a gente acerta, não? A chave é conhecer o presenteado, claro, saber de suas preferências, mas nem sempre é possível, pela distância, falta de convivência, até falha de memória em termos de repetição.

Em não sendo um expert em presentear, procuro seguir algumas pequenas regras de bom senso que passei àquela moça e que até podem ser úteis no leve e despretensioso texto de hoje. Afinal de contas, as atitudes do dia-a-dia são bem importantes no nosso rol de compromissos ou da deliciosa tentativa de agradar um amigo ou quem foi gentil conosco gratuitamente ou numa ocasião especial.

Eis alguns itens possíveis de acerto, com toda a cautela de falar em tom pessoal, por favor: não queira igualar o valor de um presente recebido e nem se assuste com a importância ou poder aquisitivo da pessoa; um presente não é uma troca, mas uma forma de retribuição ou homenagem. Não é legal e geralmente não se consegue, dar na mesma proporção do valor recebido. Não é por aí mesmo.

Em sendo um presente para a casa, bibelôs, adornos e outros itens, objetos pequenos, por favor, que caibam em qualquer cantinho. Ou até no armário se a pessoa não gostar. Objetos grandes são perigosos, a não ser na certeza. Uma dor de cabeça ganhar uma coisa que você não tem onde colocar.

Dar uma bebida tem a vantagem do impessoal, mas pode ser perigoso quando quem oferece é abstêmio ou pouco conhece, principalmente em se tratando o presenteado de um enófilo. Não custa consultar. Os neófitos costumam cair nas bebidas doces, o que pode ser um desastre (a não ser os vinhos de sobremesa) para paladares exigentes.

Quando a opção for por roupas, é bom tentar saber quais as marcas usadas pela pessoa ou as lojas em que costuma comprar. No caso de troca, fica muito mais fácil. O número também é um problema; muitos acham chato dar um GG ou XGG para uma pessoa grande, por exemplo, e caem no M ou no máximo, G para ser gentil. A troca é obrigatória, claro, o que é sempre cansativo.

Uma obra de arte ou antiguidade? Ah, como é cuidadoso, embora magnífico. Há que se sondar o conhecimento ou o gosto do presenteado. Já vi pessoas ganharem peças belíssimas e não darem o menor valor ou, talvez, ainda achando que aquilo é uma quinquilharia, que nada tem a ver com sua decoração, no melhor estilo Casa-Cor.

Assim fica difícil? Nem tanto. Quando não souber o que dar, basta uma rosa, um bombom ou um bonito cartão com uma mensagem carinhosa e delicada, no momento certo, com palavras próprias.

Ser lembrado é muito bom.