Na França, a lavanda, a linda flor da região da Provence representa a gentileza. Pelo sutil da composição, pelo balsâmico que a compõe, pelo tom especial de lilás que na psicodinâmica das cores simboliza o delicado e, principalmente, por tornar mais suaves e lavados os ambientes. Tal como esse gesto, uma das atitudes comportamentais que embelezam a vida.

São adoráveis as pessoas gentis, as entendem que somos portadores de certas qualidades que, desenvolvidas, fazem muito bem a todos. Atitudes que acabam se transformando em arte, sim, essa complicada e linda arte de viver. E, sem dúvida, também uma forma de religião. Como diz o Dalai Lama “minha religião é a gentileza”.
No mundo de grosseria e frieza que vivemos hoje, quando as pessoas sequer nos cumprimentam quando entram num elevador ou jamais agradecem quando lhe damos passagem no trânsito, diante do aumento assustador do individualismo, o conjunto que denominamos cortesia e que engloba a gentileza, a delicadeza e a amabilidade, torna-se de fundamental importância para facilitar o convívio e embelezar o relacionamento humano em qualquer tempo.

Podemos definir a gentileza como o ato de atenção, independente de qualquer laço afetivo ou parental, que vai ao encontro de uma necessidade que a pessoa tenha no momento e que demonstra o quanto a nossa emoção encontrou a dela por conta da aflição ou da simples circunstância desconhecida, já que houve um entendimento sem nada ser solicitado. Como alguém que percebendo o constrangimento de uma pessoa num encontro social por não conhecer ninguém e notando que por estar deslocada, está prestes a ir embora, se aproxima e busca integra-la, sem dar o menor sinal de que está fazendo isso. Logo não é um ato social, uma regra de etiqueta e sim, uma sensibilidade, um apelo de coração a coração.
O que facilita as situações e ilumina momentos que poderiam passar despercebidos no cotidiano ou no incolor da rotina. Difere da solicitude porque não houve pedido e nem há a obrigação profissional; da delicadeza, porque esta é uma forma de agir. Há pessoas gentis nem tão delicadas e há quem tenha um comportamento delicado e aparentemente meigo e não atinge o sensível da delicadeza praticada.

Também não é amabilidade, uma forma aprendida de agir e atuar em sociedade ou numa determinada função, muitas vezes com interesse comercial e até meio forçado. O exemplo é quem atende numa loja e pergunta a quem chega “posso ajudá-la?”. O que é muito agradável como primeira pergunta, mas que pode cansar em havendo insistência.

O que torna claro que não existe gentileza comum. Ou que não podemos dizer que um grupo foi gentil e sim, que houve amabilidade. A gentileza é única, retira o propósito de si mesma, sem qualquer outro motivo e foge a qualquer regra ou determinação.

Oportunidades para sermos gentis temos todos os dias, basta olhar à volta e perceber o que os outros precisam e que nos custa tão pouco. Como neste momento ao pensar nos meus amigos e a oferecer-lhes mental e carinhosamente o meu ramo de lavanda.

Fotos: Ivone Santos - I stop for photographs ©