Caros amigos, passado o aniversário, e assumidos os 65, faz-se necessária uma reflexão. Afinal, só quem passou por isso sabe como é. Voltemos um pouco no tempo. Eu detestei fazer 60 anos. O número é horrível, e faz um estrago imenso no âmbito pessoal e no profissional. Além do que, você não se sente um velho, e a sociedade, através de leis e costumes, quer colar um crachá de idoso no seu peito.
No ano passado, no entanto, no dia do meu aniversário, eu fui ao meu quiroprata, Dr Cris, que entrou na sala dizendo: “Parabéns, um ano a mais!”. E eu respondi, na mesma hora, sem pensar: “Um a menos…” Pensando nisso, depois, realizei que as portas da Terceira Idade se abrem para uma pessoa quando ela inverte a conta. Meu amigo Antonio Athayde, com sua verve habitual, comentou: “Pelo menos essa conta é incerta”. De fato, é.
Mas o que importa é que a gente começa a perceber que o horizonte ficou curto. Quanto tempo mais? Com muita sorte 15, 20 anos? Em que condições? A gente começa a ter pressa em certas coisas. Plantamos árvores grandes, nada de mudinhas que a gente não vai ver frondosas. Alguns projetos ficam urgentes, outros a gente aposenta. Começamos a notar os sinais de decadência física, e a temer, num futuro, a certeza da decrepitude e a eventualidade da demência.
Começamos a sentir os limites da idade. Por exemplo: no fim dos anos 60, eu cruzava a pé o Viaduto do Chá, para ir do escritório aos bancos. Ninguém era mais rápido que eu, a não ser meu pai, com sua passada de alpinista. Hoje, eu continuo o mesmo apressadinho, mas vejo os jovens passarem por mim sem fazer o menor esforço. O que acontece com o nosso passo? Encurta?
E as dores? No meu caso, hérnia de disco, bursite, epicondilite. Graças a Deus, uma por vez. Mas no outros vejo artroses, artrites, joelhos que não funcionam, quadris emperrados. Caetano Veloso também sabe disso, tanto que compôs Tudo Dói…
Além de todas estas sensações, infelizmente, estou assistindo meu pai definhar. Um campeão em tudo, agora dependente total, envergonhado, deprimido. Pesquisas recentes informam que não adianta a gente viver mais, porque vai viver mal. Estou vendo. Meu irmão, com humor, diz que bem antes disso vai tomar um trem espanhol, e sentar bem lá na frente…
Só levando com humor mesmo. E, para os que têm muita sorte, talvez uma paixão de outono. A escritora americana Edna Ferber, autora entre outras coisas de Show Boat e Giant, com um humor muito preciso, escreveu a melhor frase que conheço sobre isso: “Envelhecer é como morrer afogado – uma sensação deliciosa, depois que você pára de se debater …” É uma promessa generosa. Mas quero deixar bem claro que eu continuo me debatendo.