Em seu novo álbum, o cantor norte-americano reinventa a sua música com muito mais originalidade, criatividade e emoção

O bom de começar a abrir a cabeça para o novo é que ir atrás do diferente dá prazer. Ler um livro que você nunca imaginou ter em mãos, ver um filme que você nunca pensou que seria interessante ou ouvir uma música de um artista desconhecido é a melhor arte de buscar o novo.

E estava eu nessa quando descobri um cara chamado Chuck Ragan. Sua música é classificada como “folk/rock/punk”. Achei interessante a mistura e resolvi ouvir um de seus álbuns – e logo me tornei fã de todo o trabalho do guitarrista norte-americano.

Em 2011 ele lançou o álbum Covering Ground. Considerado um dos melhores discos da sua carreira, ele faz páreo ao fantástico Gold Country (2009). Com uma sonoridade simples, mas incrivelmente vibrante, Ragan é capaz de evocar o melhor dos sentimentos com suas músicas. Este disco muitas vezes remete a algumas músicas de Into the Wild, álbum solo de Eddie Vedder e trilha sonora do filme Na Natureza Selvagem.

Chuck RaganCovering Ground remete à estrada, à liberdade e a vida. E, sim, como disse Jonah Bayer, não se fazem mais músicos como Ragan – ele é único.

Este terceiro álbum solo é uma espécie de carta de amor ao estilo de vida levado por Ragan, que não tira o pé da estrada. Esse disco também é uma homenagem às pessoas que ele deixa para trás, mas também é o álbum mais honesto e que possibilita a grande chance de nos encontrarmos em momentos de dúvida ou sofrimento – como disse, Covering Ground evoca a vida, à estrada, ao movimento e à sensação de liberdade.

Inclusive, muitos críticos dizem que Covering Ground é o irmão sonoro equivalente à obra-prima de Jack Kerouac, On the Road, e que só poderia ter sido criado por alguém que passou por grandes e importantes momentos na estrada. Ragan disse em entrevistas que a maioria das músicas foram escritas quando eles estavam na estrada, e que a criação dessas músicas era uma maneira dele se libertar da culpa dos sacríficos que a vida de música exige.

As músicas do álbum provam que a estrada frequentada por Ragan não é utópica e bonita, e muito menos sem sofrimentos – basta ver Wish on the Moon, quando ele canta sobre “ten cylinders that fire and a woman at the end of the road”.

Chuck Ragan

“É fácil ficar cansado na estrada; a minha luta é tentar encontrar um equilíbrio entre trabalho e paixão” :: Chuck Ragan ::

O mais gostoso desse álbum é que cada música é uma espécie de salvação para quem está aprisionado na mesmice do cotidiano. Por exemplo, a sensacional Nomad By Fate mostra em seu refrão que o lar é o único lugar em que realmente nos sentimos bem.

Musicalmente, Covering Ground remete ao som de Gold Country, que possui um violão mais cru e arranjos simplistas que engrandecem o som de Ragan – a voz poderosa do cantor e as batidas dos instrumentos conseguem construir músicas de uma maneira que nunca se viu, bastando ouvir a música que abre o disco chamada Nothing Left to Prove e a já citada Wish on the Moon. É a perfeita mistura do folk, aquele gênero que remete ao country norte-americano, com o punk, onde batidas mais agressivas constroem um novo gênero musical.

Deixando de lado o fato que Ragan trabalha com instrumentos que existem há centenas de anos, Covering Ground também é memorável pela diversidade sonora do álbum: da influência do gospel ao rock, músicas como Meet You in the MiddleRight as Rain e Nothing Left to Prove provam que os arranjos desenvolvidos pelo músico e sua banda melhoraram com o passar dos anos – se comparado com Feast or Famine, seu álbum de 2007, é possível perceber isso.

Covering Ground é um álbum que se destaca pela simplicidade e inovação. O legal é saber que, além de bom músico, Ragan também é um bom moço, envolvido com projetos sociais, como o trabalho voluntário na construção de casas e a realização de shows beneficentes para instituições de caridade. Isso dá um gosto maior de saber que a vida é algo que ele valoriza muito, como ele mesmo disse em entrevista: “Ser músico é um trabalho muito mais fácil do que outros que eu já tive, mas eu ainda faço diariamente a escolha de trabalhar duro e seguir em frente, pensando apenas no meu bem estar e na minha felicidade”.