Conhecido por seus contos e poemas, o escritor Eduardo Alves da Costa trata em seu novo livro sobre um tema que o acompanha: a velhice

Ouça nossa seleção musical para acompanhar sua leitura.

Na primeira noite eles se aproximam

e roubam uma flor

do nosso jardim.

E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem:

pisam as flores,

matam nosso cão,

e não dizemos nada.

Até que um dia,

o mais frágil deles

entra sozinho em nossa casa,

rouba-nos a luz, e,

conhecendo nosso medo,

arranca-nos a voz da garganta.

E já não podemos dizer nada.

Esses são os versos mais famosos do poema “No caminho, com Maiakóvski”, do brasileiro Eduardo Alves da Costa, cuja autoria costuma ser erroneamente atribuída ao poeta russo.

Poeta, dramaturgo, contista e artista plástico com obras expostas na França e na Alemanha, Eduardo Alves da Costa volta à cena literária com a publicação de seu novo romance. Com o título emprestado de outro de seus poemas (publicado na antologia Salamargo), Tango, com violino descreve o dia a dia de Abeliano, um professor de história da arte aposentado que vive em um pequeno hotel localizado em um bairro decadente da cidade de São Paulo e envelheceu “ex abrupto, no momento em que se deu conta de que poderia viajar gratuitamente nos ônibus municipais”.

A maioria das obras que abordam a velhice enfatiza a doença, a depressão, a decadência, a derrota, mas Eduardo Alves da Costa preferiu o caminho do estoicismo, daqueles que não se entregam, que procuram manter a lucidez, substituindo a depressão pelo distanciamento irônico em relação ao mundo, à sociedade – e sobretudo a si mesmos.

O livro traz prefácio elogioso de Antônio Houaiss, que afirmou que o romance é dotado “uma escrita diabalmente aliciante.”

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