Os nobres e raros doces a base de Riesling fazem sucesso nos quatro cantos do mundo

Colheita da Riesling com o Rio Mosel ao fundo

A inspiração

Depois de dois capítulos dedicados a essa magnífica casta, como um bom seriado temos que ter uma surpresa. Vamos lá: Essa matéria nasceu no final da noite do dia 11 de novembro do ano passado, logo após o maior evento relacionado a vinhos da historia de nosso país. Na semana anterior a visita dos onze integrantes da PFV “Primum Familae Vini” PPOW anunciou a serie de eventos que essa organização faria em solo Brasileiro. Pois bem no dia dedicado a jornalistas, o inesquecível 11 de novembro, foram apresentados 22 vinhos, dois de cada produtor. Foram 10 vinhos franceses, 4 italianos, 4 espanhóis, 2 portugueses e 2 alemães. Para muitos tivemos uma surpresa, pois foram dois Riesling secos da Alsácia (produtor Hugel – apresentado na semana passada) e dois Riesling doces da Alemanha (Mosel, mais precisamente dos arredores de Wiltingen, as margens do do Rio Saar). Pois bem foi o doce Riesling Scharzhofberger Auslese Goldkapsel 2007,do mítico produtor Egon Müller, o melhor vinho doce provado em 2010 e um dos três mais impactantes brancos doces de toda a minha vida. Um doce que emociona logo no 1º ataque olfativo. Um mel com frutas como damasco, apricot e um final mineral delicioso. Na boca é eletrizante, sensacional, fabuloso. Tudo o que havíamos detectado nos aromas é confirmado em boca. Retrogosto repleto de sensualidade. Seu final de boca é quase infinito. Uma obra de arte líquida.

Vinhedo Scharzhofberg com o Castelo Egon Müller ao fundo

Os grandes Doces à base da Riesling da Alemanha e França

Nas duas últimas duas semanas só falamos dos Riesling secos e meio secos, mas não podíamos deixar de dizer que a Riesling além de sua elegância e tipicidade nesses estilos, produz vinhos doces absolutamente sensacionais. De maneira geral os doces Alsacianos e Alemães são raros e caros. Do lado Francês temos os Vendange Tardives – VT (colheita tardia) e os Seléction de Grains Nobles – SGN (seleção de grãos nobres). Já da Alemanha temos os “mit prädikat” Auslese, Beerenauselese-BA ou Trockenbeerenauselese-TBA. Há muita similaridade entre as apelações controladas desses dois países. Os VT Alsacianos se equivalem a uma porcentagem dos mais intensos Auslese e todos os BA, enquanto os SGN são a resposta francesa para os TBA. Os BA e os VT tem grande parte das uvas atacadas pelo fungo botrytis cinérea* e os SGN e TBA são produzidos a partir de uvas 100% “atacadas” pelo fungo em questão.

Somente para deixar claro o papel desses vinhos no cenário dos vinhos doces não fortificados, os Riesling TBA e SGN, estão ao lado dos mais prestigiados Sauternes de ,Bordeaux, dos Quartz de Chaume e os Coteaux de Layon ,do Loire, dos TBA Austríacos (de diversas castas) e finalmente dos SGN de Gewurztraminer e Pinot Gris da Alsácia, como os mais espetaculares do planeta vinho. Todos esses brancos são produzidos com uvas atacadas pelo botrytis que dependem muito das condições climáticas de cada ano/safra e por isso são raros e muito caros.

Por último vale destacar que os vinhos Auslese e VT são mais leves e elegantes se comparados com os potentes, densos e ricos BA, TBA e SGN.

Cacho de Riesling atacado pelo fundo Botrytis

Desses vinhos provamos menos exemplares que gostaríamos, obviamente pelos motivos acima, mas tivemos uma bela quantidade desses néctares degustados. Alguns sublimes que superaram 93 pontos e outros que tivemos que descartar da matéria, pois apesar de caros, não fazem jus para receber destaque em nossa coluna.

Destacamos a seguir três grandes Auslese da Alemanha e dois Vendanges Tardives da Alsácia.

Dos Auslese alemães coincidentemente dos três campeoníssimos, cada um representa uma região do país, a saber: Pfalz, Rheingau e Mosel. São dessas 3 regiões ao lado do Saar que vem os melhores Riesling TBA, BA e Auslese da Alemanha.

Trio de Auslese do Pfalz, Rheingau e Mosel

Da região de Pfalz mais precisamente de um vinhedo nas cercanias de Ruppertsberg a alguns kilômetros a oeste da histórica e linda Heidelberg, encontramos o mais sensacional  dos Riesling doces de nosso painel. Com seus 10,5º GL, o intenso e profundo o Weingut Dr. Burklin-Wolf Gaisböhl 2002 mostrou excelente complexidade aromática com maçã e damasco de sobra, presentes nuances minerais, tons de mel e um final de frutas secas. Muito perfumado. No palato apresenta acidez  eletrizante com um conjunto de boca sensacional. Finaliza em boca com uma doçura encantadora, sem deixar de ser fresco. Produzido por um dos mais renomados produtores de toda a região do Pfalz a partir de uvas cultivadas com técnicas da agricultura Biodinâmica.

Vinehdo Hattenheimer Nussbrunnen

Especificamente em 2002 essa casa produziu vinhos doces espetaculares. Do Rheingau o destacamos o sublime Hattenheim Nussbrunnen Riesling Auslese 2005 do produtor Balthazar Ress.

Esse vinho é produzido com uvas colhidas nas cercanias do Reno, à oeste de Frankfurt. Também com 10,5º de álcool esse encantador branco é muito profundo. Aromaticamente é provocante e sensual com fruta de sobra (a maçã cozida é o destaque), finalizando com bom caráter mineral, acidez vibrante e aquele final cítrico delicioso. Gustativamente é imponente e amplo. Seu retrogosto é muito longo.

Rótulo do Hattenheimer Nussbrunnen Auslese

Por último do Mosel provamos um sensacional branco doce do produtor Weingut Dr. Loosen, que duas semanas atrás colocou seu Kabinett entre os grandes Riesling meio secos de nosso painel. O sensacional Ürziguer Würzgarten Riesling Auslese 2008 apresenta boa densidade.

Dr. Loosen Ürziger Würzgarten Riesling Aulese 2008

Seus 7º GL estão definitivamente integrados ao conjunto de fruta, tons cítricos e a presença mineral. Conjunto aromático que esbanja finesse e elegância. Sua doçura é puro encantamento. Gustativamente as frutas cítricas e a deliciosa acidez são notórias. No palato é vivo, rico e ao mesmo tempo delicado. Um branco doce do Mosel de 1ª linha. Esses três vinhos, todos em meia garrafa – 375 ml, estão sensacionais hoje, mas tem estrutura para continuar evoluindo por mais 20 anos. São mesmo garrafas colecionáveis.

Ernst Loosen e Luiz Gastão na Expovinis 2011

A dupla de VT alsacianos foi: de um lado o Léon Beyer Riesling Vendanges Tardives 1995 e do outro o Pierre Frick Riesling Rot-Murlé Vendanges Tardives 1997.

Marc, Yann e Leon Beyer, craques na produção de doces a base da Riesling

O primeiro é um vinho impecável e que mostra o estilo do Riesling Alsaciano doce. Com seus 13º de álcool é bem mais alcoólico que os alemães acima e por isso mostra mais força e corpo. É menos sutil, mostrando camadas de fruta madura, toques cítricos (limão), mel e tons florais. Conjunto aromático exótico. Em boca é volumoso e firme. Um belo doce alsaciano. Já o segundo é um vinho diferente de tudo. Pierre Frick é um produtor radical, pois é pregador do vinho natural, sem produtos químicos. Adepto ao cultivo da agricultura biodinâmica elabora vinhos muito puros. O Rot-Murlé é um branco doce (levemente doce), cheio de personalidade e estilo. É muito evoluído e seus toques de oxidação são marcantes. Os 13,8º de álcool mostram o poder desse delicioso doce. Um vinho realmente diferente. De tão oxidado chega lembrar um fortificado da Espanha. Talvez um Oloroso? Vale a pena provar. É diferente de tudo o que foi provado nesses três painéis de Rieling.

Os dois excelentes Vendandes Tardives da Alsácia

Os Riesling Doces pelo mundo

Provamos uma série de Riesling doces produzidos em muitos países, mas só vamos destacar dois. Dos demais degustados, principalmente os da América do Sul, estavam desequilibrados e realmente não merecem destaque. Vale ressaltar que não tivemos acessos a bons Riesling dos Estados Unidos e da Austrália. O primeiro destaque foi o espetacular Neozelandês Pegasus Bay Riesling Aria Late Picked 2007. Um vinho que prima pela elegância e sutileza. Com seus 10º GL é aromaticamente muito equilibrado. Fruta madura (apricots), cítricos (laranja), nuances minerais, toques leves de mel e tons florais. Na boca é confirmada a leveza e o frescor. Sua acidez é vibrante. Final de boca excelente. Casou de maneira espetacular com um gorgonzola dolce. O segundo foi o rico chileno Miguel Torres Riesling Vendemia Tardia 2006. Licoroso com impressionante densidade. Nota-se claramente o estilo de um vinho com as uvas atacadas pelo Botrytis. Muito perfumado com fruta madura, mel, flores e madeira (envelhece por 14 meses em carvalho francês novo). No paladar é vivo, especiado e muito presente. Final de boca muito apetitoso. O mais alcoólico de todos os vinhos desse painel (14,5º GL). Uma excelente pedida para estar ao lado de uma terrine de foie gras.

Os Riesling Doces de Chile e Nova Zelândia

*-> O Botrytis Cineria é um fungo que se apresenta em condições climáticas específicas. Ele fura a casca da uva e causa a perda de líquido da fruta, que se enruga e tem seus açúcares concentrados. Normalmente as uvas ficam expostas ao sol por mais algumas semanas antes da colheita final.

Os vinhos Egon Müller são importados para o Brasil pela Grand Cru – www.grandcru.com.br

Os vinhos Weingut Dr. Burklin Wolf são importados para o Brasil pela Mistral – www.mistral.com.br

Os vinhos Balthazar Ress são importados para o Brasil pela WorldWine – www.worldwine.com.br

Os vinhos Weingut Dr. Loosen são importados para o Brasil pela Aurora – www.aurora.com.br

Os vinhos Léon Beyer são importados para o Brasil pela Vinci Vinhos – www.vinci.com.br

Os vinhos Pierre Frick são importados para o Brasil pela Casa do Porto – www.casadoporto.com.br

Os vinhos Pegasus Bay são importados para o Brasil pela Premium – www.premium wines.com.br

Os vinhos Miguel Torres são importados para o Brasil pela Devinum – www.devinum.com.br