Saber se fazer feliz é a monumental sabedoria do viver

Alguém me fala sobre uma frase do grande escritor argentino Jorge Luiz Borges, publicada aqui e também enunciada num programa de rádio: “Cometi o maior dos pecados, não fui feliz”. A pessoa ficou muito impressionada com isso, porque a leu e ouviu no mesmo dia em que fazia uma série de reavaliações, e afirma, criticando Borges, que ninguém é infeliz porque quer, mas sim, por um capricho do destino e que não ser feliz jamais será um pecado, pois não depende de nós.

Apelando para o entendimento da simbologia quanto à palavra “pecado” dita por ele e respeitando o seu direito sagrado e saudável de discordar, altamente elogioso tanto para o grande Borges, quanto para este modesto cronista (quem nos critica é porque nos lê, de alguma forma se interessa e nos dá atenção), peço licença para ver a frase de forma diferente. Aliás, entender esse tal pecado foi uma das mudanças mais radicais na minha forma de viver, felizmente. Acho que esse é o maior dos pecados, sim, o de não nos fazermos felizes, porque sempre parti do ponto que o primeiro compromisso que temos nesta vida é conosco. E não vejam nisso qualquer egoísmo.

Em não sendo feliz, jamais conseguirei fazer alguém satisfeito ou alegre e nunca poderei compreender quem está envolvido nesse maravilhoso estado de espírito. Os cirenaicos, seguidores da escola filosófica de Aristipo de Cirene, na Grécia, diziam que o homem é egoísta demais para pensar nos outros, para contribuir de alguma forma com a humanidade, de ajudar o próximo, se não estiver feliz. Na desgraça, na má aventurança, nas angústias, ele enfia a cabeça na terra como o avestruz e só pensa em suas desditas. Alguém tem dúvida disso e não pôde constatar essa imensa verdade do comportamento humano nas horas em que esteve infeliz?

Saber se fazer feliz… essa é a monumental sabedoria do viver. E como? Suavizando situações que poderiam ser pesadíssimas, não sofrendo no pré-datado, procurando pessoas que nos façam bem, que tragam positividade e energia, luz e bem estar e nos afastando dos corvos e dos sombrios maledicentes ou que vibram pelo mal dos outros, percebendo que as circunstâncias bravas da existência não acontecem só conosco e, principalmente, tendo como princípio que ninguém pode nos ajudar se antes nós não tivermos nos ajudado ou, pelo menos, tenhamos essa intenção.

Cabe a nós, sim, lutarmos com todas as forças para atingir esses momentos de êxtase. É bom que isso fique claro neste momento, quando esperanças estão prontas para se renovar.