“Deus fez o homem minimamente para que ele se fizesse maximamente”

Uma das danças mais instigantes que se assiste na Turquia é a dos dervixes, homens vestidos com longas batas em godê e chapéus de cone, que rodopiam até o transe absoluto o que os faz aproximar-se em espírito do Divino em total reintegração. Seu grande mestre é Celaleddin Rumi, o místico que fundou a Ordem Mevlevi, que tem em Konya, o Mosteiro original.

A simbologia mais representativa dos dervixes é a tomada de consciência, herança da filosofia sufi de que não podemos nos deixar envolver, um passo além das necessidades terrenas, com os excessos do mundanismo e da superficialidade, que tanto nos desviam dos nossos verdadeiros propósitos na terra.

Como em tantas outras teorias místicas e esotéricas, a crença de que cada um de nós, possui no alto da cabeça – lembrando do chakra coronário – um invisível fio de prata, o nosso elo com Cosmos, ponto de proteção e certeza de que existe um ponto de ligação entre os seres humanos e o Grande Destino, tal e qual um carrossel dentro do Movimento Universal.

A grande proposta é que não nos deixemos perder pelo fútil, pelo pequeno, pelas influências e condicionamentos sociais, deixando de valorizar o que realmente importa e de compreender o que realmente viemos fazer aqui. Eis a frase do Bhagavad Gita: “Deus fez o homem minimamente para que ele mesmo se fizesse maximamente”.

Mas como é difícil viver assim, não? Como acabamos dando maior importância ao externo do que ao interno. Como canalizamos nossas ânsias para a materialidade e o consumo e acabamos por priorizar o insignificante, o pó, quase entregando todos os esforços existenciais para o que nada contribui para a evolução.

É preciso um cuidado extremo, sem tornar isso uma obsessão, evidentemente. Perceber o que realmente importa, não inverter a verdadeira ordem dos valores, não mergulhar de cabeça naquilo que nada nos acrescenta e nem cobre a nossa desvalia.

Na certeza de que somos testados o tempo todo, de que as desimportâncias nos cercam, de que mergulhamos, quando menos esperamos, naquele “nada” que traz uma solidão danada sob a aparência de complementação. Aliás, é o que a sociedade utilitarista espera que aconteça para cumprir seus propósitos e interesses dentre as forças do poder e do dinheiro.

Eis porque os dervixes rodopiam de braços abertos, para se libertar desse aturdimento. Para que a alma vá ao encontro de si mesma e o espírito humano encontre sua iluminação.

Dentro do nosso cenário ocidental, é claro, de um cotidiano que naturalmente nos absorve, nas ofertas que surgem todos os dias nos símbolos de conforto e da tecnologia, já que não podemos viver distantes do tangível, do concreto e do prático.

Mas podemos, sim, e devemos, tomar cuidado para distinguir os bens materiais do Bem Maior, sentidos de Sentido, satisfações de consciência, bem estar de felicidade e amplidão.

Para que nada arranhe o abençoado e invisível fio de prata.