O parque suspenso que nasceu de uma ruína de Nova York

Em junho último a cidade de Nova York celebrou a inauguração da segunda das três seções do High Line, o parque que vem nascendo parte espontâneo, parte pela vontade dos cidadãos e interesse do governo em dotar a cidade de mais verde, ao mesmo tempo em que preserva seus elementos urbanos.

Explicam-se as duas partes: no leito suspenso da antiga ferrovia que cruzava o Meatpacking District, bairro a oeste da cidade, desativada desde 1980, uma flora selvagem e incomum cobriu os velhos trilhos. Com o passar dos anos, o mato e a aparência de abandono levou a prefeitura a planejar a demolição da ferrovia instalada sobre pilares.

Mas houve quem viu a beleza e o potencial daquelas ruínas para valorizar a vizinhança. Robert Hammond e Joshua David moradores de West Chelsea criaram então o grupo Amigos da High Line, com o objetivo de pleitear a transformação do elevado em parque suspenso, inspirado no Promenade Plantée, de Paris, um corredor verde que tem início próximo da Ópera Bastilha e segue pela antiga via férrea Paris-Vincennes.

O grupo não apenas conseguiu adeptos de peso como também sensibilizou as autoridades. A partir daí e do fundamental apoio de vários patrocinadores, foi feito um concurso de projetos para o parque, do qual participaram reconhecidos escritórios de arquitetura (Zaha Hadid e Steven Holl incluídos), saindo vencedores o arquiteto paisagista James Corner e o escritório Diller Scofidio+Renfro.

Em 2009, a primeira seção foi inaugurada e já se pode ver ali que o objetivo foi respeitar a vegetação nascida espontaneamente, fazendo-a sobressair e conviver com os novos caminhos, lounges e mirantes de rua, simples e naturais, que levam ao inusitado e prazeroso passeio aéreo pela cidade.

Abaixo da linha
Para quem mora em São Paulo, o High Line remete imediatamente ao “Minhocão”, uma obra controversa desde sua concepção, que só fez enfeiar a cidade e contribuir para a degradação dos vários bairros que atravessa.

Também aqui há o dilema de demolir ou transformar o elevado em jardim. E já até houve um concurso para este projeto, o Prêmio Prestes Maia de Urbanismo, vencido em 2006 pelo escritório Frentes, dos arquitetos Juliana Corradini e José Alves.

Projeto do Escritório Frentes Arquitetura para o Elevado Costa e Silva, de São Paulo

Projeto do Escritório Frentes Arquitetura para o Elevado Costa e Silva, de São Paulo

No entanto, em 2010, o prefeito de São Paulo divulgou planos de demolição do Elevado Costa e Silva, com vistas a um melhor aproveitamento imobiliário da região, obra prevista para terminar em 2025!

Bem diferente de Nova York, aqui não há uma associação de cidadãos em torno da causa e muito menos o interesse político em concretizar algo de bom para a cidade pela simples razão de ser bom para a cidade (leia-se cidadãos), e não plataforma eleitoral ou, o de sempre, especulação e reforço de caixa particular de políticos e empreiteiros.

Então, para ver um equipamento urbano restaurado para servir à qualidade de vida de uma cidade, o jeito é, quando der, escapar até Nova York e incluir o High Line na lista das atrações imperdíveis da Big Apple.

Conheça um pouco mais sobre o High Line Park nos vídeos abaixo e no site www.thehighline.org

Fotos: Reprodução/Divulgação