A Fattoria de Fèlsina é uma das mais importantes casas da Toscana na produção de vinhos Sangiovese in purezza

Fachada da Adega Fèlsina Berardenga…

O Veneziano professor de literatura Giuseppe Mazzocolin casou-se com a filha de um agricultor da Toscana, que em 1966 adquiriu uma propriedade ao sul de Siena, mais especificamente em Castelnuovo Berardenga, denominada anos depois de Fattoria di Fèlsina Berardenga. Durante alguns anos esse simpático Veneziano continuou sua cátedra em Florença e tinha o negócio do sogro como um complemento de seu dia a dia como Maestro, de Literatura. Maestro é como um professor é chamado na Itália. Em 1982 o Maestro parou com sua profissão e começou a se dedicar integralmente a Fattoria di Fèlsina. Giuseppe fala com orgulho de suas origens (pai e mãe também venezianos), mas quando fala de suas propriedades que herdou na Toscana, se revela um grande apaixonado por essa encantadora região. Mostra ainda mais paixão quando começa a recitar sobre a Sangiovese, a casta mais importante de toda essa linda região da Itália. A casta em questão é controversa, pois não encanta a todos. Alguns produtores da região chegam a dizer que pretendem fazer um vinho Sangiovese free, mas esses, para a nossa felicidade são poucos. A Sangiovese é a espinha dorsal dos Vinhos do Chianti e a casta do monovarietal e disputadíssimo Brunello di Montalcino, que na região de Montalcino é chamada de Sangiovese Grosso.
Giuseppe um admirador de nosso país e de nossa cultura veio nos visitar pela terceira vez, em fevereiro último. Giuseppe e Ciro Lilla da Importadora Mistral organizaram alguns eventos em São Paulo e Rio para divulgar os vinhos da Fattoria. Para os jornalistas e opinion makers organizaram um excepcional jantar no Restaurante Biondi no Itaim Bibi, em São Paulo. O evento se distinguiu da maioria dos eventos com produtores, por um motivo muito especial. Giuseppe trouxe na mala vinhos mais antigos para serem degustados ao lado dos vinhos disponíveis em sua importadora aqui no Brasil. O intuito de nosso professor era mostrar como a Sangiovese evolui com o passar dos anos.

Maurício Tagliari, Giuseppe Mazzocolin e Luiz Gastão no Grand Tasting Fèlsina…

Ao chegar ao Restaurate Biondi o simpático Giuseppe nos esperava ao lado do proprietário da Casa, Bruno Previatto e dos hosts da importadora, Rodrigo Mainardi e Claudia Motta, alem da Sommelière Laura Wortmann. Fomos recebidos com uma taça do branco Pepestrino da safra 2008. Um vinho fresco elaborado a base da cepa Trebbiano Toscano (70%) com o restante de Sauvignon Blanc e Chardonnay, em partes iguais. Excelente mesmo para começar um evento, pois combinava toques verdes e tons florais com uma apetitosa acidez. Branco para ser consumido jovem. Logo após esse inicio o que impressionou foi o serviço do vinho. À mesa todo tínhamos as taças já com seus vinhos tintos servidos, eram nove. A taça do branco, um Chardonnay puro, o fabuloso I Sistri 2007, ainda estava vazia. Todo esse mise en scène foi para que os vinhos estivessem prontos para serem degustados com a temperatura ideal, o que foi confirmado durante a degustação. Palmas para a craque Laura. Vale destacar que o serviço do vinho em questão foi de classe internacional e um dos melhores já presenciados aqui no Brasil. O chefe de cozinha do Biondi, o extra-jovem Rodolfo de Santis, preparou um menu que estava de dar água na boca e que no decorrer do jantar se mostrou excepcional. Nosso assunto aqui, além da dica do restaurante, é ressaltar a qualidade do serviço do vinho, comentar os vinhos e contar como foi um pouco da “dissertação” que Giuseppe conduziu na degustação que teve a casta Sangiovese como protagonista.

Seleçao dos 9 Tintos Fèlsina degustados no Restaurante Biondi em São Paulo…

Bruno Previato, Giuseppe Mazzocolin e Rodolfo de Santis…

Os dois primeiros tintos apresentados foram o Fèlsina Chianti Classico 2007 e Fèlsina Chianti Classico Riserva 2006. Parece que foi de propósito, pois nesse momento provoquei Giuseppe, tentando induzir qual safra foi melhor na região, 2006 ou 2007. Depois de 10 minutos debatendo sobre o assunto, a conclusão foi: as duas safras foram extraordinárias e estão entre as melhores de todos os tempos na região. Tive a oportunidade de degustar dezenas de grandes vinhos da Toscana dessas duas safras e continuo com a dúvida. Pessoalmente percebo os 2006, quase sempre, mais exuberantes enquanto os 2007 são mais profundos. Desses dois Sangiovese in purezza, o Classico 2007 levou leve vantagem. Esse é o mais espetacular Chianti Classico da casa elaborado ao lado do inesquecível 1997.

O fenomenal Chianti Classico Riserva Rancia 2006

Depois desse delicioso inicio tínhamos três vinhos de cada um dos destaques da casa, que são o Chianti Classico Riserva Rancia e o Super Toscano Fontalloro. Do primeiro, um single vineyard, estavam à mesa o 1994, o 2001 e o 2006, já do segundo, o Fontalorro, tínhamos 1990, 1995 e 2005. Tanto Rancia quanto Fontalloro são também produzidos a partir de 100% Sangiovese. O Tasting foi mesmo emocionante e parecia uma obra de Dante Alighieri, de tão belo que foi. Todos os vinhos estavam totalmente íntegros e fez com que os presentes concluíssem o que a casta Sangiovese pode proporcionar, seja em plena juventude ou com notória evolução. O Rancia 2006 confirmou o que uma boa safra pode produzir em um grandíssimo ano. Talvez em toda minha vida esse tenha sido o Chianti, Sangiovese in purezza, mais espetacular já provado quando jovem. São vinhos como esse que me fizeram ficar completamente apaixonado pelos grandes tintos da Toscana da Safra 2006.

Mas a grande surpresa da noite foi o Rancia 1994. Um vinho perfeito em todos os sentidos. A primeira sensação foi a de me lembrar desse vinho, que tive a oportunidade de degustar por diversas vezes, sendo a última há cerca de 5 anos. A segunda sensação foi a de ter o prazer de beber um vinho em sua plenitude. Seu equilíbrio nos aromas estava fabuloso e em boca tudo parecia ter sido milimetricamente balanceado. Seus taninos maduros pareciam ter sido polidos um a um. Um tinto inesquecível. Apesar de ser também de uma grande safra, o Rancia 2001, ficou atrás dos 2 irmãos, e de certa maneira distante. Isso não quer dizer que não é um bom vinho. O patamar da comparação foi muito alto. Dos Fontalloro tivemos mais uma aula de nosso Maestro. A aula é uma alusão a explanação precisa da diferença dos vinhos apresentados, apesar de ambos serem 100% Sangiovese.

Vista da Adega com o Vinhedo Rancia no inverno

O vinhedo Rancia fica em uma região com mais florestas ao redor, mais úmido, produzindo quase sempre vinhos com mais acidez, enquanto que o Fontalloro é um vinho elaborado a partir de 3 vinhedos diversos, com clima mais quente, produzindo vinhos mais com mais extrato e toques de terra e trufas. Dos Fontalloro tivemos uma situação parecida com a degustação dos Rancia, pois 2 vinhos foram superiores e outro menos impactante. O Fontalloro 1990 estava sensacional e totalmente pronto, como o Rancia 1994. O 1995 estava apetitoso, mas lhe faltou estrutura para competir com seus outros irmãos. O grande destaque dessa série foi o Fontalloro 2005, que exibiu um excelente volume de frutas vermelhas maduras entrelaçadas com deliciosa madeira, tons minerais e um final vibrante. Esse vinho foi o 3º melhor dentre os Sangiovese, logo atrás do campeão Rancia 1994, seguido do espetacular Rancia 2006.

Depois dessa aula sobre a grande Sangiovese foi servido o Maestro Raro 2006. Esse vinho é produzido a partir de 100% de Cabernet Sauviginon, que foi batizado com esse inusitado nome, uma espécie de homenagem ao nosso querido professor Giuseppe. Um vinho de estrema estrutura e que prima pela tipicidade. Sente-se claramente o estilo Cabernet Sauvigonon com um acento de pimenta, alcaçuz e tons herbáceos. Mais um grande tinto da safra 2006 na Toscana.

O delicioso Fèlsina Vin Santo 2000

Para fecharmos La Grande Giornata nos foi oferecido o Vin Santo Del Chianti Classico 2000. Produzido a partir da já citada Trebbiano (cerca de 45%), Malvasia (cerca de 35%) e 20% de Sangiovese. Esse branco estava reluzente, delicioso, mostrando uma doçura encantadora com frutas como abacaxi, damascos e pêssego, tudo muito bem evolvido com uma boa madeira, tons lácteos e um final incrível. Finalizamos seguramente a melhor noite de um ano, que promete muito, pois afinal de contas só tivemos dois meses transcorridos.
Os vinhos da Fattoria de Fèlsina são importados para o Brasil pela Mistral (www.mistral.com.br).