Depois dele, o design não foi mais o mesmo

Por Art Déco se define o estilo tido como moderno – e não modernista – que alcançou proeminência mundial no período entre as duas grandes guerras do século 20.

Nesse cenário, um verdadeiro caldeirão onde fervilhavam transformações e influências, o estilo foi pioneiro ao utilizar todo o tipo de mídia disponível para se expressar, abrangendo belas artes, arquitetura, decoração, design artesanal e industrial, joalheria, moda e têxteis, cinema e fotografia, artes gráficas. E não sobrou pedra sobre pedra na recriação do design dos novos tempos.

Contrapontos tecnológicos, sociais, políticos e econômicos desenharam o Art Déco multifacetado e surpreendente: sinalizador do conceito de globalização, também serviu ao nacionalismo isolacionista, animou os festivos anos 20 e driblou a Grande Depressão.

Veículo eficiente para a difusão do capitalismo, foi usado da mesma forma na face visível de regimes totalitários. E pegou a carona fundamental da disseminação da produção em massa de bens de consumo, em que o apelo visual dos produtos começava a mostrar seu poder de seduzir consumidores.

Muito do fascínio do Art Déco reside na própria confrontação entre valores novos  e antigos. Na mistura geral que promoveu, trabalhos aparentemente díspares como um sofisticado móvel de Jacques-Emile Ruhlmann, expoente da mais fina marcenaria do período, e um rádio de bakelite, produzido em série industrial, se aninhavam natural e amistosamente dentro do estilo.

Outro ângulo interessante é o que espelha um lado feminino – chique, elegante, ligado ao refinamento de tradições e materiais – com os simbolismos masculinos da era da máquina e da tecnologia que contemplava cromados e plásticos no lugar de ébano e marfim. 

O termo Art Déco deriva da famosa “Exposition Internationale des Arts Décoratifs et Industriels Modernes”, realizada em Paris, em 1925. Para muitos estudiosos, até então, o estilo era uma tendência francesa de decoração. A partir da feira, contudo, mostrou a que veio e para onde ia: o mundo inteiro, principalmente através da arquitetura, mas também de todas as artes e expressões.

Hoje com status de monumentos históricos, construções do período (às centenas pelo mundo, felizmente) se mantêm funcionais, vivas, conservadas. Os edifícios Chrysler e Empire State, em Nova Iorque, e o Distrito Déco, em Miami, são ícones americanos do estilo. A estátua do Cristo Redentor (agora uma das Sete Maravilhas do Mundo Atual) e o prédio da Central do Brasil, no Rio de Janeiro; o Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret (cuja maquete foi apresentada em 1920 e, a obra, entregue em 1953) e o Estádio do Pacaembu, em São Paulo, são alguns dos nossos belos exemplos “nativos”.  

Estilização da natureza, linhas retas, padrões geométricos, zig-zags, o namoro com o Cubismo e com a Avant-Garde, o culto ao exotismo das culturas egípcia (reavivada pelas descobertas arqueológicas do início do século 20), maia, chinesa, japonesa e africana se combinam para sintetizar energia, glamour e luxo na coerência estética do provocativo Déco.

O estilo que fez os designers da época “think out of the box”, e que certamente exerce influência notável em algum móvel ou objeto que temos hoje em casa, dá a receita da eterna juventude ao juntar dois ingredientes essenciais: graça e fantasia.

As peças vistas aqui, a partir do alto:

_ Poltrona de vidro e pele de zebra, Denham Maclaren, 1931, V&A Museum, London.
_ Vaso de latão laqueado, Jean Dunand, c. 1931, Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris.
Escultura “Forms in Space, Number 1”, de aço inox e cobre, John Storrs, c. 1924, Metropolitan Museum of Art, New York.
Rádio Fada Streamliner, 1940, V&A Museum, Londres.
Serviço de café “Cubic” ou “The lights and Shadows of Manhattan”, de prata em três acabamentos: natural, dourada e oxidada, Erik Magnussen, 1927, Museum of Art, Rhode Island.
Pendant de platina, diamantes e onix, Cartier, 1913, Coleção Cartier, Genebra.
_ Poster da exposição francesa, Robert Bonfils, 1925, V&A Museum, London.
_ Biombo “Oásis”, de ferro e latão, Edgar Brandt, c.1924, Coleção privada, Paris. O motivo de fonte estilizada é simbologia recorrente na ornamentação do Art Déco.
_ Vestido de seda com motivo oriental, Jeanne Paquin, 1925, V&A Museum, London.
_ Móvel biblioteca, Paul Frankl, c. 1928, Collection John P. Axelrod, Boston.

Referências e reproduções do livro Art Deco 1910-1939, coletânia de artigos editados por Charlotte Benton, Tim Benton e Ghislaine Wood para V&A Publications, London