Por que será que o teste de todas as coisas é a durabilidade? É engraçado como as pessoas ligam duração à grandeza, força e existência. Principalmente, numa relação a dois. Um casamento que “durou” cinqüenta ou sessenta anos deu certo; um caso de anos e anos, também. Uma relação fugaz, contingente, passageira, não.

Parece que a correspondência de grandeza e positividade com o tempo de ligação está unido à própria precariedade da condição humana que se sente atraída pelos longos períodos, por situações que parecem intermináveis. Junte-se a isso, o peso do “até que a morte nos separe”, a tirânica imposição religiosa impingida às relações humanas. Nada a ver.

O ser humano não é uma geladeira ou uma máquina de lavar que tem “duração”. O ser não combina com o durar, na questão da própria essência. Eu não duro, eu existo. O meu tempo e as minhas relações, também não. O tempo sobra ou falta, dependendo de uma série de fatores e necessidades, de relações de causa e efeito, de circunstâncias, de referências, ânsias, desejos, possibilidades. Assim, não pode de forma alguma estar ligado à duração.

De repente, um casamento, um caso, um namoro, pode ter dado certo sim, embora tenha acontecido durante um curto espaço de tempo, no decorrer de uma viagem, no intervalo circunstancial. Ficou no espaço certo da emoção correspondente. Enfim, num momento em que havia a necessidade afetiva ou sexual.

Há pessoas que vivem juntas por anos e anos a fio e nem por isso deram certo na relação. Coabitaram, aturaram-se, permanecendo lado a lado por obrigação, dever, comodismo, medo. Mas as necessidades, as ânsias, estavam em outro lugar, em outras imagens, nas mais distantes projeções.

É claro que o fantástico é que a grandeza perdure o mais possível. Seria muito bom. Mas não se pode exigir isso da vida. Até porque ela é instável e sucessiva. Como nós também somos. Só que essa instabilidade é sempre vista como negativa, assim como tememos o sucessivo.

Calderon de La Barca afirmava que “o sonho do homem é querer parar o tempo para registrar no eterno só os momentos que considera felizes; só que se conseguisse quebrar a linha sucessiva, esses momentos fugazes, então permanentes, ficariam exauridos, cansados e deixariam de ser felizes”. Muitas vezes, o sonho está na própria fugacidade, no raio que passa e deixa marcas na biografia de cada um.

As pessoas rejeitam a fugacidade na grandeza, porque sentir isso dá trabalho, é um processo da sensibilidade e esta é um privilégio (ou um esforço) que se está tornando meio raro. Nunca esquecendo que temos, pela vida, “amores necessários e amores contingentes” como tão bem disse Simone de Beavoir.

Lidar com a distinção e o usufruto igualmente é uma questão que poucos, muito poucos, conseguem administrar.

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