Expressão genuína da forma com que encaramos a vida

Falamos em “bom humor” e “mau humor” como se fossem comportamentos separados nas pessoas e atribuições diferentes de um para o outro. Há quem afirme de forma peremptória que um filho nasceu de mau humor e o outro tem um bom humor inato. Difícil discutir com mãe…

Na verdade, temos um humor, a capacidade de dar um toque à emocionalidade diante da percepção, apreciação e captação dos fatos que atingem o nosso processo afetivo nervoso. Trata-se de uma flutuação entre as emoções de prazer, alegria, contentamento, boa surpresa, e as emoções de desprazer: raiva, medo, tristeza. Entre tantas outras, é claro. De acordo com esse flutuar, estamos num ou noutro humor, da vibração e do entusiasmo à irritação, que não são por si, emoções, mas sintomas do que estamos vivendo.

O que existe é uma predisposição genética para as emoções de prazer ou para as de desprazer, segundo um estudo da Universidade Stanford, avalizado pela Organização Mundial de Saúde. O que é facilmente comprovado por quem trabalha em comportamentalismo há tantos anos.

Dá para notar sem maiores aprofundamentos que não os da atenção e do interesse, aqueles que podem estar em inúmeras emoções positivas, mas que basta uma, negativa, para tirar todo o prazer e a leveza. Ao contrário, outros, conseguem encontrar sempre uma tonalidade melhor na atitude e mesmo num momento difícil, buscam flutuar entre a alegria e a boa surpresa, a par de suas dificuldades e durezas. Oferecem a si mesmos a permissão da descontração, do contentamento.

Na verdade, o humor é a expressão do que há de mais genuíno na forma com que uma pessoa encara a vida. Da mais sustentável leveza a um inacreditável peso. Podemos até nos identificar com formas de humor alheias, mas precisamos encontrar a nossa, sob pena de uma existência rígida e sem importantes válvulas de escape.

Mais a mais, quando se entra em graça, o cérebro produz endorfina, substância que alivia a dor. E o organismo se retroalimenta. Com menos dor física ou moral, passa-se a encontrar mais prazer na vida. O problema é que se costuma confundir seriedade com respeito e responsabilidade. Daí, o pesado recurso da sisudez. O medo mata o gracejo.

Muitos, também, confundem o humor na emoção de prazer, a apreciação mais leve da vida e a percepção do quanto ela é uma piada cósmica, no bom sentido, do caricatural e do deboche, uma tática questionável de gozar o que não se entende tendo como recurso precário, o escracho. Como certos programas de TV, que levam alguns ao riso, enquanto outros, os abominam. Ao contrário, o chamado senso de humor está ligado à compreensão de que se trata de uma brincadeira, muito bem aproveitada num momento. É um exercício de inteligência e fina ironia que pede elegância e interpretação.

Já a comicidade é o que nos faz rir, a diversão do espírito, o que contém ingredientes imaginativos do que não deve ser levado a sério, as situações em si que quebram o estabelecido e adquirem maior força que a norma, o rompimento imprevisível do fluxo lógico.

Provavelmente pensando nessa sustentável leveza do humor, mas também sabendo de seu peso quando o desprazer é cultivado é que Jacques Lacan, o imenso psicanalista, afirmava: “Seria trágico se não fosse cômico”.