Uma criação extraordinária da mente humana

Foram muitos os filósofos, pensadores e literatos, entre tantos intelectuais, que afirmaram que quanto mais estudavam e conheciam, menos sabiam.

Dias desses recebi de um leitor inteligente e analítico, um e-mail em que ele cita o Teorema da Incompletude, de Kurt Gödel, um mestre da Lógica Matemática, em que ele fala: “Quando numa sucessão de afirmações toma-se outra das afirmações como referência, há sempre uma que é indecidível se é falsa ou verdadeira por ser auto-referente”. Ou seja, como posso discutir a crença na existência de Deus em não havendo a proposta da crença na não-existência?

Eis porque a inteligência humana está sempre acompanhada da dúvida, essa criação extraordinária da mente humana que tanto acrescenta ao psiquismo e ao espírito.

E como é medíocre o radicalismo, a postura do dono da verdade, do que precisa sempre se auto-afirmar através de certezas que só existem para si mesmo.

Dia desses pensava nas pessoas que considero mais inteligentes dentre as que fazem parte do meu círculo de amizades ou mesmo de relacionamentos profissionais. Não encontrei, salvo a memória tenha falhado feio, uma única que não se enquadre nessa tão admirável condição de um ser duvidoso e questionador; que tem a humildade como caminho da busca e a abertura da discussão como linha de conduta e evolução.

E fiz o contrário, também: arrolei aqueles que na minha concepção e convívio, ainda que breve, acho que não foram muito aquinhoados pela inteligência e constatei o quanto são convictos, como afirmam certezas sem acanhamento, como adoram impor suas precárias teorias e conceitos. E como são incapazes de transigir, de maleabilizar, de concordar que podem se enganar.

Foi o suficiente para comprovar o quando o estado de consciência é de cada um, à medida em que não existe resposta única.

O não duvidar torna-se absurdo e jocoso, quando vamos percebendo com as experiências vividas o quanto as linhas são imprecisas, entre o amor e a servidão, a motivação e o hábito, a generosidade e a mesquinhez.

Num momento tenho um ato lindo de doação; no outro caio feio num gesto de mesquinharia, não é mesmo? Um dos grandes dramaturgos da humanidade, o norueguês Henrik Ibsen, descreve essa imprecisão com imenso brilho ao escrever “Os Espectros”. Que todas as pessoas que dêem a honra da leitura deste canto de página, não se envergonhem de suas dúvidas, não as escondam nem as abafem. A dúvida é o sintoma mais claro de que o olhar se movimenta, segue a gaivota no céu, procura a sua resposta nas estrelas e sonha, sonha muito. E assim, muitas vezes, não distingue o que é sonho e o que é a realidade.

Diz bem Oscar Wilde: “Sim, sou um sonhador. Sonhador é quem consegue encontrar o próprio caminho ao luar e como punição vê o alvorecer antes do resto do mundo”.

Foto: Lawrence Olivier na cena clássica de Hamlet, de Shakespeare – “Ser ou Não Ser”