A filha de uma aluna, pré-adolescente de treze anos está absolutamente desolada porque sua amiga de vida inteira, vizinha de apartamento, com quem sempre estudou, indo e vindo junto do colégio, trocando as confidências pueris, enfim, mais que irmã,  está mudando para os Estados Unidos, acompanhando os pais, claro.

A mãe está preocupada: a garota chora, se revolta, questiona se não pode ir junto, enfim mudou muito o comportamento, o que ela considera absurdo, excessivo. As duas já brigaram muito porque a mãe enfatiza o exagero e acaba sendo agredida. Meio sem rumo, pediu a minha opinião, inclusive se deve levar a menina para a terapia.

Tentei fazê-la ver que na adolescência tudo tem um peso maior, em nome da polaridade de emoções, das descobertas que surgem de repente e não fixam critérios, de forma que tudo num dia se torna morte e no outro, vida ou mesmo, esquecimento. O que é fundamental hoje será dispensável amanhã, entre idiossincrasias, alegrias e tristezas. É o esquema imponderável para o que se repetirá ao longo de suas vidas: os encontros e as separações.

Por mais que seja batida e rebatida como frase de miss, “você é responsável por aquilo que cativas”, já proclamava o Pequeno Príncipe e quando alguém se vai, o jovem acha que, ou ele está fugindo de sua responsabilidade ou a vida mentiu. Conviver com os rumos diversos que as existências tomam, ainda é muito difícil, embora não seja fácil nunca, mesmo no auge da maturação.

Custa a se assimilar esse sentimento de perda, que não tem, necessariamente, a ver com morte e sim com as partidas e ausências. É uma sensação de vazio, de que estamos sendo traídos por algo ou alguém que nos foge às mãos, a emoção de desprazer de estar sendo subtraído de um amor ou de uma amizade, a impotência diante dos fatos e da distância.

Ele é agudo quando um filho sai de casa para estudar e trabalhar e a mãe sente que ele não voltará mais, ainda que esteja lutando por seus espaços no mundo e possa ser o melhor, quando a irmã vai morar longe ou o amigo mais íntimo se afasta por qualquer motivo. Até quando um vizinho estimado muda, a gente experimenta esse sentimento.

Convivo com algumas pessoas que preferem não se envolver para não se defrontar com esse sentimento de perda, aquele que a garota está sentindo pela primeira vez, provavelmente. Mas a vida é um risco e o afeto um compromisso. Como diz um ditado francês “le bonheur de la vie c´est le malheur d´aimer” (a felicidade da vida é a infelicidade de amar).

Não tem jeito. Ou melhor, o jeito é entender que mesmo não sabendo para onde os queridos vão e na dúvida se voltam um dia, se haverá reencontros, sabemos de um lugar fixo em que estarão sempre: num ponto preciso da memória e num canto precioso do nosso coração.

“É uma sensação de vazio, de que estamos sendo traídos por algo ou alguém que nos foge às mãos, a emoção de desprazer de estar sendo subtraído de um amor ou de uma amizade, a impotência diante dos fatos e da distância”