Precisamos esfregar os olhos para novas visões

O poeta norte-americano Walt Whitman, em “Canção de si mesmo”, um de seus maravilhosos textos, diz da “necessidade de nos separarmos de coisas como a preocupação com o trânsito, as dificuldades rotineiras pequenas, a falta de dinheiro ou as incompreensões no trabalho ou com os filhos. Tentar arrancar esse cotidiano para conseguir olhar para o mundo e para vida com outro frescor”.

Chamado dos mais importantes em todos os momentos da existência e que acaba esquecido, não só nos problemas diários, nas faltas e carências, como no excesso, no suprimento além do limite. É assim que nós adormecemos com o excesso e nos esquecemos do cósmico; é preciso um razoável esforço para nos mantermos em vigília em meio à mediocridade reinante.

Mediocridade essa que não é um xingamento, por favor, mas o enxergar as coisas num ponto dirigido ou estereotipado. Realmente, precisamos de outro frescor de tempos em tempos e muitas vezes, a gente esquece. Uma lição das mais importantes a serem assimiladas é que nada nos preenche durante a vida toda, nada é para sempre, mesmo as emoções e sentimentos, se não houver renovação, um reposicionamento, um re-significar das situações e dos conceitos.

Esse frescor vem do entendimento do quanto precisamos esfregar os olhos para novas visões por mais que o roteiro diário esteja numa média positiva ou agradável. Não há frase mais furada do que esta “em time que está ganhando não se mexe”. Mexe sim, porque senão ele começa a perder. Ou aquela horrível expressão “se ficar melhor, estraga”. Nunca estraga ficando melhor e, sim, nada fazendo para mudar.

Não conheço ninguém que tenha se acomodado num determinada situação e que tenha ficado bem até o final de seus dias. O cotidiano se esgota, cansa, se exaure em si mesmo, quando nada o agita, quando não se quebra aquele metodicismo massacrante, a tirania dos hábitos.

Como dizia a escritora inglesa Doris Lessing, “nós mesmos escolhemos as prisões para viver”. Essa renovação está, muitas vezes, bem perto de nós; num cenário, num diálogo, no ajudar o próximo, no se interessar por algo novo, na oportunidade oferecida e que se não aproveitada no ato não volta mais. Eis porque o excesso é perigoso. Ou aquilo que julgamos ser o suficiente “forever and ever”. Não é não, acaba por esgotar-se e a gente nem percebe e desemboca na depressividade. E um dia acorda sem qualquer entusiasmo ou motivação. Sem aquele outro frescor de que fala o poeta.