Através deles somos conduzidos prazerosamente à maturidade

Não é a primeira, menos ainda a segunda e não será a última vez que falaremos aqui de um tema que entrava as relações humanas e destrói o convívio e a troca: a intransigência e o radicalismo.

Principalmente na palavra e na opinião, já que são muitos os que não admitem uma contradição ou qualquer atitude que se oponha às suas crenças. Perderam ou não adquiriram aquele importante olhar mais despojado para a vida, que depende muito da educação e da formação, que deve mostrar que todo conceito não pode ser extático, mas dinâmico em seu movimento para que possa se segurar. O absolutamente oposto ao fanatismo.

O budismo fala muito em encontrar a palavra certa “aqueles que a encontram nunca ofendem e no entanto, contribuem. Palavras claras, não ásperas” afirmam, em sua sabedoria. Chamando sempre a atenção para não se cair nas armadilhas criadas pela raiva.

Essa maleabilidade foi magnificamente esclarecida pelo filósofo alemão Hegel, o mestre da dialética ao propor que as pessoas não tivessem medo de pensar e sim, de fazer do pensamento o refúgio da razão e da liberdade.

Dizia que temos em nós, em termos de convivência e discussão, três seres: o ser em si, o ser fora de si e o ser que poderá ser para si. Que correspondem à tese, à antítese e à síntese. No magnífico exercício do diálogo e da argumentação, o que faz a beleza da conversa.

O ser em si, a tese, é a nossa proposta, o princípio com base na convicção, o conhecimento, a visão pessoal, o entendimento pelo próprio olhar à existência e às circunstâncias. O ser fora de si, a antítese, é a proposta do outro, a oposição, a idéia contraria vinda de um pensamento diferente do meu, o que configura a unicidade e a maravilha da individuação.

Já o ser que poderá ser para si, a síntese, é a união das duas idéias opostas, a interação, o abrir mão de um lado e o ceder do outro para que se possa chegar à melhor solução, a um resultado onde não ganhe a razão única, mas o envolvimento conjunto para o progresso e a evolução.

Muitos e muitos não conseguem a maravilha de usufruir desses três seres que nos conduzem aos encontros com a maturidade. Os inseguros, fracos e dominados, ignoram ou não valorizam o ser em si. Não possuem sua própria tese.

Os donos da verdade, os que pensam só com o próprio umbigo, os que se colocam sempre como o centro do mundo, jamais aceitarão o ser fora de si, já que vêem a antítese como ofensa pessoal e jamais atingirão o ser que poderá ser para si, a magnífica síntese.

Com isso não exercitam o Princípio da Abundância de que também falava Hegel: para que eu esteja certo não há necessidade de que você esteja errado, assim como não é preciso que você seja infeliz para que eu seja feliz.

Foto: Alessandra Przirembel Angeli © I stop for photographs