Gigondas e Vacqueyras são excelentes alternativas para os espetaculares e caros Chateauneuf Du Pape

Cacho de Grenache, a casta que reina no Sul do Rhone

Não há duvida que os vinhos Chateauneuf Du Pape estão entre os mais badalados, disputados e desejados do planeta. Com todos esses adjetivos, obviamente os preços vão lá pra cima. Um cuidado tem que ser tomado nesse vinho, pois o nome do produtor faz toda a diferença. Temos Chateauneuf Du Pape entre os melhores do mundo e outros que podem ser ordinários, sem expressão. Quando falamos de produtores top’s da região como Domaine Perrin, do mesmo proprietários do mítico Chateau de Beaucastel, Paul Jaboulet Aîné e Michel Chapoutier, os Chateuneuf são muito caros, apesar de valerem cada centavo. Esses 3 produtores elaboram além de grandes vinhos tanto do Norte quanto do sul do Vale do Rio Rhône, vinhos de excelente qualidade fora dessa badaladíssima AOC (Appellation d’origine contrôlée) de Chateauneuf Du Pape.
Pois bem, nossa inspiração foi garimpar as AOC’s satélites de Chateauneuf, que oferecem vinhos muito especiais e a preços muito mais acessíveis que os sensacionais e caros Chateauneuf Du Pape. Tanto a AOC de Gigondas (AOC desde 1971) quanto a de Vacqueyras (AOC desde 1990) tem seus tintos carinhosamente chamados de Petit Chateauneuf’s ou até mesmo de Litlle Brothers do vizinho mais afamado. No sul do Vale do Rhône, onde se localizam  essas AOC’s, a casta tinta que  predomina é Grenache (também conhecida como Grenache Noir). Essa casta é a espinha dorsal dos tintos de Vacqueyras e Gigondas.

Mapa do vale do Rio Rhone onde podemos ver Gigondas & Vacqueyras

Vacqueyras e Gigondas
Partindo de Chateauneuf Du Pape para o leste, com 20 quilômetros de estrada pela Route de Chateaunuef, chegamos a Vacqueyras. Percorrendo mais 6 quilômetros ao nordeste de Vacqueyras temos a comuna de Gigondas, ou seja, tudo muito perto. Isso é para ressaltar que do ponto de vista de terroir e clima temos regiões similares.
A AOC Vacqueyras produz tintos (maior proporção), brancos e roses, enquanto Gigondas é uma AOC dedicada somente a tintos. Na primeira AOC que abrange cerca de 1.300 hectares temos além da casta Grenache, as tintas Syrah, Mourvedre, Cinsault, Muscardin, Counoise e as “brancas” Clairette e Bourboulenc, dentre outras. Já em Gigondas nos pouco mais de 1.200 hectares temos Grenache, Syrah, Mourvedre e Cinsault. Normalmente Vacqueyras utiliza mais Syrah em seus blends se comparado com a AOC Gigondas. Essa última AOC tem como norma que os tintos devem ser produzidos com no máximo 80% de Grenache, mínimo de 15% de Syrah ou Mourvedre e no máximo 10% das outras castas da região.

A pequena comuna de Gigondas rodeada de vinhas

Essas 2 AOC’s são conhecidas pela produção de tintos raçudos, firmes e que primam pela força e estilo. Muitas vezes com característica apimentada e presença mineral. São na maioria das vezes menos elegantes que os Chateauneuf Du Pape, mas repletos de personalidade.
Para a felicidade dos amantes de vinhos e mais ainda daqueles que procuram por novidades, temos no Brasil uma boa oferta de vinhos dessas 2 AOC’s. Poderíamos ter muito mais rótulos disponíveis, mas das 7 amostras que nós do PPOW tivemos oportunidade de provar, todos merecem destaque.
Quatro especiais Gigondas e três deliciosos Vacqueyras
Na semana passada tivemos nessa coluna uma matéria sobre degustações às cegas, com destaque para um vertical. Coincidência ou não, nessa semana acabamos tendo uma bela horizontal de Gigondas 2007 e uma degustação de Vacqueyras de 3 safras diferentes: 2003, 2006 e 2007. Por essa razão decidimos fazer às cegas só os Gigondas, seguida da degustação, também às cegas, dos Vacqueyras. Depois disso comparamos os vinhos já com todos non blind, como dizem os americanos.
A safra de 2007 foi excelente no sul do Rhône, produzindo vinhos de alta qualidade em todos os satélites de Chateauneuf Du Pape. De maneira geral foi nessa região da França que melhores vinhos foram produzidos em 2007. Durante a colheita o tempo ajudou muito e tudo deu certo. A Grenache foi colhida em excelentes condições e muito madura. Mourvedre e Cinsault colaboraram para produzir vinhos muito equilibrados. A Syrah também teve excelentes resultados. Somente como informação complementar da safra, o Chateuneuf Du Pape 2007 do Chateau de Beaucastel foi um dos melhores tintos degustados dentre todos os vinhos do Sul do Rhone até hoje. Sem duvida o melhor de todos dessa casa do novo milênio, se igualando em qualidade ao espetacular 1998.
A horizontal de Gigondas 2007

o delicioso Gigondas Pierre Aiguille da casa Paul Jaboulet Aîné

O nível dos Gigondas 2007 foi altíssimo e todos estavam de muito bons para excelentes, sendo avaliados entre 90 a 93 pontos. Tintos deliciosos, muito parelhos, repletos de estilo e vida. O Gigondas Pierre Aiguille da casa Paul Jaboulet Aîné é produzido a partir de vinhas com idade média de 40 anos. Sua composição é 80% Grenache, 10% Syrah e 10% Mourvedre.  Linda cor rubi. Aromas marcantes com a fruta vermelha madura ressaltada e nuances de cereja negra madura. As notas da madeira são sutis e elegantes (estagia 6 meses em barricas de carvalho). Em boca apresenta muita força e personalidade. Taninos de excelente formação e um final de boca delicioso. O Gigondas Chapoutier estava muito vivo e sensual. No nariz os destaques são a boa fruta madura seguida de tons florais, terrosos e um impecável toque mineral. Retrogosto longo, repleto de frescor. Um tinto que alia potência, elegância e certa rusticidade. Conjunto complexo e generoso. Seus potentes 14,5º de álcool estão bem entrosados ao conjunto de acidez, fruta e madeira.

O genial Michel Chapoutier

O Gigondas da Domaine Guigal estava fabuloso. Seu blend é: 60% Grenache, 30% Mourvèdre e 10% Syrah. Com 14º de álcool esse tinto é carnoso, potente e equilibrado. Talvez de todos os vinhos desse painel é o que mais potencial de guarda tem, pois seus taninos são muito estruturados e sua acidez é impressionante. Um Gigondas na acepção da palavra, já que tem todas as características dos vinhos dessa AOC, com destaque para a personalidade, presença mineral, terra, fruta negra madura na medida certa e um tom de certa maneira selvagem. Excelente.

O estruturado Gigondas 2007 da casa E. Guigal

Para finalizar nossa horizontal de Gigondas 2007 tivemos o La Gile da Domaine Perrin. Esse último foi o campeão dentre todos os Gigondas do painel para ser degustado hoje. Talvez em 5 anos o Guigal possa ultrapassá-lo. Gordo, intenso e cheio de vida. A ameixa negra madura está bem marcada nos aromas. Tostados elegantes e deliciosos, com toques levemente herbáceos e alcaçuz. Gustativamente apresenta muita riqueza de fruta e vibrante acidez. Taninos de excelente qualidade e um final de boca eletrizante.

Rótulo do excelente e campeão Gigondas La Gille


Vacqueyras de 3 safras diferentes

O impactante Vacqueryras Domaine La Brunely 2003

Aqui tivemos uma curiosidade, pois diferentemente dos Gigondas, onde todos foram produzidos por grandes produtores do Rhône, nos Vacqueyras tivemos somente 1 de um grande nome da região e outros 2 de pequenos produtores. Além disso, tivemos o “vovô” da degustação, o Vacqueyras Domaine La Brunely 2003 da casa Grangeon et Fils. Sem dúvida esse foi o mais maduro de todos do tasting, não somente pela idade, mas também pela característica da safra. 2003 foi uma safra das mais quentes da região nos últimos anos. Uma safra não muito constante onde podemos encontrar verdadeiras maravilhas e alguns vinhos com uma maturação até desagradável. Ao acessar esse tinto confirmamos os prognósticos. Um tinto super maduro quase dando para sentir na taça o calor que as uvas sofreram. Em boca é mesmo “quente”, apresentando muita riqueza e complexidade. Diferente de todos do painel, mais pungente. 60% Grenache, 10% Mourvèdre e 30% Syrah.

Vinhedo Le Clos da Domaine Montirius em Vacqueyras

O reluzente Montirius Vacqueyras Les Clos 2006 produzido pela família Saurel com técnicas da agricultura biodinâmica foi o campeão dentre os Vacqueyras e chegou, na avaliação final, muito perto do campeão Gigondas La Gile 2007 e do Gigondas Guigal 2007. Intrigante nos aromas com toques animais, framboesas maduras em abundância, tons herbáceos e um final especiado. Boca volumosa. Conjunto provocante, sensual e vibrante. Um vinho que alia potência, frescor, elegância e estilo. Seu blend é somente Grenache e Syrah (50% de cada) de um vinhedo único (single vineyard) de 8,5 hectares. Delicioso. Vale ressaltar que 2006 foi também uma excelente safra no sul do Rhône.

O delicioso Vacqueyras Montirius Les Clos 2006

O último dos Vacqueyras foi um 2007 e da Domaine Perrin, o impactante Les Christins. No conjunto ficou um pouco atrás do Montirius, mas mostrou o quanto a safra 2007 foi fabulosa em toda a região do Sul do Rhône. Também como o Les Clos tem somente as duas castas mais importantes da AOC, Grenache (65%) e Syrah. Aromas muito apetitosos com fruta madura, alcaçuz, toques apimentados e um final fresco. Boca firme com a fruta madura muito presente. Um tinto com boa estrutura que está delicioso hoje e certamente continuará evoluindo por mais 2/3 anos.

Rótulo do Vacqueyras Les Christins da Domaine Perrin

Os vinhos Montirius são importados para o Brasil pela Decanter – www.decanter.com.br
Os vinhos Guigal são importados para o Brasil pela Expand – www.expand.com.br
Os vinhos Perrin et Fils são importados para o Brasil pela WorldWine – www.worldwine.com.br
Os vinhos Paul Jaboulet Aîné e Chapoutier são importados para o Brasil pela Mistral – www.mistral.com.br
Os vinhos Domaine La Brunely/Grangeon et Fils são importados para o Brasil pela Vinci Vinhos – www.vinci.com.br