Mega shows aos ricos, pão e circo aos pobres

Vai entender o mundo do Show Business. Há uns 15 anos as pessoas pagavam um preço justo por um ingresso e assistia a um, dois, no máximo três grandes shows por ano. Era bem emocionante, pois a gente parecia dar até mais valor aos artistas de fora.

Hoje em dia a coisa é diferente, tem até uma superlotação de artistas internacionais. Praticamente um a cada fim de semana, e muitas vezes no meio da semana. Ir a shows virou símbolo de status. A produção do(s) show(s) de uma banda ou artista anuncia a venda de ingressos a preços exorbitantes e todos correm para comprar o seu. E o que acontece? Os ingressos logo se esgotam em questão de horas, tal qual pastéis na feira (a diferença é que o pastel não sai por mais R$3,00).

O Brasil virou a menina dos olhos para milhares de empresários e artistas (muitos deles menosprezavam este país e se recusavam a se apresentar por aqui em outras épocas). Hoje a economia no Brasil é boa e aliada à receptividade do público daqui, virou o foco do chamado Show Biss. Nada contra acontecerem estes shows com artistas que, por sinal, admiro muito, mas não acho correta a forma em que tudo está acontecendo.

Está certo que o mundo mudou e que vivemos hoje em meio à globalização, mas será que não há possibilidade de públicos menos favorecidos poderem prestigiar e consumir a cultura assim como os mais favorecidos? Outro fato é que os preços se tornaram discrepantes após a liberação de meia entrada para estudantes. Não que estes tenham culpa, mas os produtores que antes cobravam um preço mais acessível para todos os públicos, agora tiram a diferença sobre os que pagam ingressos integrais. Por exemplo, um show que antigamente custaria R$100,00 para todos, hoje custa R$200,00 (no mínimo) no valor integral, e R$100,00 para meia entrada. Concordo com o direito dos estudantes, mas os produtores não deviam querer compensar uma coisa com outra e lucrar desvairadamente.

Este alerta não é para beneficiar este que vos escreve, mesmo porque o trabalho de crítico tem a vantagem do acesso livre aos shows para poder comentá-los. Mas é uma questão de educação (tão comentada nas eleições) que temos que abrir os olhos e até protestar, pois tudo está acontecendo porque há público para consumir – a lei da oferta e da procura. Por que quando sobem os preços dos ingressos para jogos de futebol a torcida protesta e o valor é mantido? Nem por isso o futebol deixa de ser uma atividade altamente rentável.

Enquanto os ingressos, principalmente de shows internacionais em tempos de desvalorização do dólar, continuarem sendo comercializados a peso de ouro, a maioria do país continuará não tendo acesso à cultura boa, e muitos continuarão frenquentando bailes baratos ao som de músicas chinfrins com letras vulgares pela simples falta de oportunidade e informação. Diga-se de passagem, todos os dias acontecem shows tão bons quanto aos internacionais por preços muito mais acessíveis.