Enérgico e tenso, livro do jornalista Jake Adelstein explora a brutalidade da máfia japonesa

Jake-Adelstein

Como estudante de jornalista, às vezes penso como seria legal entrar no meio de uma história bombástica e como deve ser a adrenalina a cada caractere digitado, a cada fonte ouvida e a cada informação descoberta. Tem hora que dá vontade de virar um personagem de filme e viver algumas aventuras que podem render dezenas de histórias cheias de conspiração e ação.

Acho que não era bem isso que Jake Adelstein devia pensar quando resolveu se mudar para o Japão. Na verdade, o que ele achava que ia acontecer é que ele viveria na tranquilidade de um templo budista. Mas, como você pode ver no livro Tóquio Proibida (tradução de Donaldson M. Garschagen; Cia. Das Letras, 456 páginas, R$ 53,00 a versão imprensa ou R$ 27,00 a versão digital), seu destino foi outro.

Depois de alguns anos já vivendo no Japão, e ainda um repórter inexperiente que mal dominava o idioma do país, ele se tornou o primeiro jornalista estrangeiro a ser contratado por um grande jornal japonês, o prestigioso Yomiuri Shimbun.

Quem conhece um pouco dos rígidos costumes japoneses sabe que não se trata de um feito simples. Numa sociedade notoriamente fechada, onde os gaijin são vistos com péssimos olhos, Adelstein ganhou acesso a um país completamente desconhecido no ocidente, e até mesmo para boa parte dos japoneses.

Alocado no exclusivo clube de repórteres policias do jornal, Adelstein passou mais de dez anos percorrendo o submundo de Tóquio e investigando casos de pornografia infantil, extorsão e tráfico de órgãos. Suas histórias frequentemente o levavam ao distrito de Kabukicho, espécie de “zona da luz vermelha” da cidade, onde o fato de ser estrangeiro às vezes funcionava a seu favor.

Tóquio-Proibida

A cada passo que dá, o repórter acumula credibilidade e experiência, mas também se aproxima da yakuza, a poderosa e onipresente máfia local. Numa narrativa sem heróis fáceis – policiais, jornalistas, políticos e mafiosos vivem num estado de quase conivência -, Adelstein traz à tona uma faceta sombria da sociedade japonesa, com seus códigos de honra, tradições seculares e hábitos perigosos.

Conforme explora as complicadas relações da yakuza com o governo, Adelstein se depara com uma história de repercussões internacionais, envolvendo um chefão poderoso, o FBI e o alto escalão da inteligência japonesa – o que lhe rende uma ameaça de morte e o faz mergulhar num jogo de corrupção, intrigas e mistérios, digno dos grandes romances policiais.

Claro que vou cair naquele clichê de que Adelstein tem uma escrita envolvente, que a história é bem estrutura, que os momentos descritos no livro ora arrepiam, ora deixam o leitor com medo ou ainda surpreendem pela coragem e absurdo (no sentido de “não é possível que ele está passando por isso”) de alguns momentos, mas uma coisa é fato: se você quer ser um bom jornalista e ter um bom domínio de como contar uma boa história, Tóquio Proibida é uma referência.

Não só pela epopeia de Adelstein ser envolvente e interessantíssima, mas também pelo fato de que, como jornalista investigativo, ele expôs um mundo desconhecido através de um livro surpreendentemente tenso, inteligente e curioso – os melhores elementos para uma boa leitura policial.

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