Arquiteto e urbanista fala sobre projeto sustentável pioneiro e qualidade de vida

PPOW_Neo_JSFormado pela FAU-USP, o experiente arquiteto e urbanista trabalhou com Paulo Mendes da Rocha e Joaquim Guedes, dois dos maiores nomes da arquitetura brasileira, e foi coordenador de desenho urbano para o PICCED – Pratt Institute de Nova York, tendo assinado ao longo de 30 anos de carreira mais de 2 mil unidades residenciais. Em São Paulo, participou da reurbanização das marginais dos rios Pinheiros e Tietê e, em Nova York, da revitalização urbana da região do Harlem.

Além disso, ele considera fundamentais as experiências na área artística vividas na juventude, como escolas de arte, pintura e cursos de teatro amador: “O bom arquiteto precisa de uma boa bagagem cultural para saber observar e apreciar os espaços, algo que não se aprende na universidade”, acredita.

Atualmente morando e trabalhando em Florianópolis, Santa Catarina, Jaques Suchodolski está à frente, como criador e empreendedor, do Neo – Next Generation, o primeiro projeto residencial brasileiro com aproveitamento de energia eólica, localizado no bairro Novo Campeche.

Veja aqui a matéria sobre o projeto

Nesta entrevista ao PPOW, Jaques fala sobre a experiência de criar espaços que agregam condições sustentáveis e, assim, valorizam a qualidade de vida.

Porque escolheu Florianópolis para morar e também para este projeto?
Isso é parte do mesmo mote espiritual, digamos assim, que fundamenta a filosofia do projeto. Florianópolis é um lugar aparazível, menos denso do que as grandes cidades, mais calmo, com acesso à natureza, mais seguro, ou seja, tem os atributos que uma família busca e quer proporcionar aos seus filhos. Mudamos para cá com isso em mente e nos fixamos na Lagoa (Lagoa da Conceição), porque fica em um ponto que tem facilidade para deslocamento, é próximo de aeroporto, enfim.
Consequentemente, tudo isso também faz parte do meu projeto que é também meu primeiro empreendimento. O bairro escolhido foi o Novo Campeche, ao norte da extensa praia do Campeche e próximo da Lagoa.

O Neo é seu primeiro projeto a utilizar energia eólica?
Sim, é. Mas o importante é que não é o primeiro a levar em conta a sustentabilidade. Em toda a minha carreira fiz inúmeros projetos pioneiros que incluíam estações de tratamento de esgoto, por exemplo. Os aspectos bio climáticos sempre foram uma preocupação para mim. Então o Neo eu vejo como o desenvolvimento natural do meu trabalho. A incorporação da energia eólica se deu até por coincidência de ter um local, uma praia, onde venta muito e ter conhecido os produtos da Helix Wind, que já existiam no mercado. O que este projeto promete é que 100% da energia necessária ao aquecimento de água dos apartamentos será solar e eólica (elétrica transformada em térmica), obtida sem queima de combustíveis fósseis. Mas o projeto é todo pensado em termos sustentáveis e terá efluentes totalmente tratados, a tal ponto que a água será reutilizada para própria descarga, irrigação de jardins e limpeza.

O que um projeto que utilize fonte eólica demanda do arquiteto em termos de conhecimento técnico específico e adaptações de projeto?
Os equipamentos são encontrados no mercado. Antes não existia o moinho vertical, mas com ele se aproveita muito mais os ventos urbanos, é silencioso e tem um aspecto que acrescenta um agradável elemento escultural ao projeto. É claro que demanda conhecimento, mas que já vem da experiência como arquiteto e incorporador. Para a energia eólica eu diria que basta o conhecimento básico que todo mundo aprende na escola sobre transformação de energia. O resto fica por conta do pessoal especializado, o engenheiro, o calculista, enfim, aqueles que vão quebrar a cabeça para fazer o que você imaginou (risos).  Mas é uma coisa copmplexa, porque afinal projeto é um compromisso assumido. Essa é a diferença do Neo, a atenção com o viver bem. Isso vai desde essas características sustentáveis até o acabamento de alta qualidade dos materiais e acabamentos, às metragens mínimas – não há nenhum quarto com menos de 3m x 4m.

Você tem planos de construir mais edifícios como esse? Onde?
Hoje sou totalmente favorável ao “pense globalmente, atue localmente”. E atuar aqui em Florianópolis é ótimo, porque tenho envolvimento total com a obra e preservo minha qualidade de vida. Penso sim em novos projetos desse tipo por aqui.

Como você define o público atraído por um projeto como o Neo?
Num primeiro momento, esse público pode até ser atraído pela novidade, isso pode ser um chamariz. Mas estamos falando de um imóvel que começa em 500 mil reais e é superdiferenciado por inúmeros aspectos e facilidades, não só pelas turbinas no alto do telhado. Então acho que o público vai analisar todo o conjunto e o que ele vai ganhar em qualidade ao morar nesse imóvel pensado em tudo para o bem estar. Durante a concepção, toda sugestão de melhoria era levada à prancheta e acrescentada. Então acho que o público é aquele que busca eficiência e comodidade.

O que é um estilo de vida consciente para você?
Ah, não tem uma receita, mas este projeto tenta preencher o que eu acho que é isso. Por exemplo, cada piso do Neo tem quatro apartamentos e um espaço específico para o lixo daquele andar; quer dizer que, tá legal, você deve separar lixo, mas onde acomodar? Então, prover o lugar com o necessário para a pessoa exercer um estilo de vida consciente é importantíssimo. E o Neo tem toda a estrutura para isso: você acorda cedinho, pega umas ondas, volta, já limpa e guarda equipamento, toma seu banho, café e vai trabalhar… E sabendo que tudo o que fizer dentro de sua casa terá 50% de economia de energia; e isso é muita coisa. Buscamos uma possibilidade e firmamos um compromisso ao investir nela para propiciar essa qualidade de vida mais consciente.

O que você gosta de fazer quando não está trabalhando?
Adoro o mar, passear e olhar o mar, Florianópolis é um lugar tão bonito… Às vezes, durante o dia, indo de um compromisso a outro, paro o carro, ponho uma música e fico contemplando a paisagem por uns 10 minutos, aí sigo adiante. Acho que momentos assim fazem parte de um estilo de vida consciente, porque em primeiro lugar você tem que pensar em você mesmo, em estar bem e curtir a vida. É fundamental. Isso se opõe à ostentação, ao adquirir coisas como quem compra um barco ou um carro para se exibir. Acho que sustentabilidade é uma mudança que envolve a troca do “ter” pelo “ser”. Pensar antes se o que você tem ou adquire vai te satisfazer ou apenas criar uma imagem. Quando você começa a exercer esse pensamento, você também começa a pensar “para onde vai o meu lixo?” E olha que esse não é só o lixo físico que geramos, mas também palavras e atitudes que às vezes despejamos em cima dos outros… Sustentabilidade e consciência é produzir menos desses resíduos na vida.