Vice-presidente da ABETA conta ao PPOW um pouco da sua história com o ecoturismo

Para tentar transformar as condições do ecoturismo no Brasil e facilitar o acesso de todos a belezas naturais ainda desconhecidas por muitos, Denise Santiago, atualmente vice-presidente da ABETA (Associação Brasileira de Ecoturismo e Turismo de Aventura), largou a carreira de professora de educação física, para buscar o seu sonho.

Apreciadora de viagens em meio a natureza, sempre visitou diversas regiões do País e pela falta de estrutura que encontrou por muitos dos lugares que passou, resolveu levar um novo patamar ao ecoturismo. Como ela própria diz, “plantando sementinha por sementinha”, vem conseguido ajudar ano após ano no amadurecimento e profissionalismo do setor, que comparado há 15 anos sofreu uma imensa evolução.

Confira a entrevista concedida por Denise Santiago ao PPOW e conheça um pouco mais da sua história e de todo o funcionamento da ABETA:

PPOW: Como começou a sua história com o turismo ligado a aventura?

A minha formação é educação física, dei aula durante 10 anos na área, mas sempre gostei de atividade em meio a natureza, fazer viagens ligadas ao ecoturismo. Então, desde cedo, mesmo lá trás, quando ainda era estagiária, sempre nas férias gostei muito de viajar pelo Brasil.

Em 1990, fui para Bonito acidentalmente, uma região que naquela época não tinha estrutura nenhuma. Depois fui para o Pantanal num grupo de estudantes, onde surgiu a história de organizar algumas viagens. Um amigo já trabalhava em uma operadora pequena, ai juntava os grupos e eu também reunia alguns amigos e a gente começou a realizar viagens pelo Brasil.

PPOW: E como você deixou de lado a sua formação para entrar nessa área?

Teve um certo momento que decidi que era isso mesmo que eu gostava, então resolvi mudar. Comecei a trabalhar em uma operadora menor que fazia viagens rodoviárias, com atendimento ao cliente, mas cada vez mais fui entrando no ritmo, gostando e fiquei por ai uns três anos.

Mas eu tinha outras ideias, eu queria trabalhar com um ecoturismo num outro patamar. Nesta época, de 1990/91, as pessoas ligavam muito o ecoturismo com aquela história de roubada, de passar perrengue.

Até hoje temos um pouco deste estigma, mas tentamos trabalhar. Muitas pessoas, até mesmo amigos, falam espantados quando nos referimos a determinados lugares que visitamos, porque eles acham que você não vai ter estrutura boa, que você vai passar fome, não vai comer legal, vai passar frio, que a pousada não vai ter um aconchego.

Então até hoje ainda enfrentamos um pouco desta imagem. Mas é lógico que, se pensarmos em 15 anos, a mudança foi muito grande, foi muito significativa, por que lá atrás a gente realmente não tinha essa estrutura.

Foto: Nathália Cunha

PPOW: O que pode ser destacado nas mudanças neste período?

Antigamente eram pousadinhas, não tinha a mínima organização, não tinha nada na cidade, não tinham passeios, não tinha nada. E 15 anos depois você enxerga uma outra situação. O profissionalismo aumentou de mais numa velocidade fantástica.

E nesse meio todo, surge a história da ABETA, que foi um marco sem dúvida, porque lá atrás, a gente tinha algumas empresas com uma filosofia parecida.

PPOW: Como você define e qual o objetivo da ABETA?

A ABETA é uma associação de diversas empresas que possuem uma filosofia parecida, com toda a preocupação com o atendimento, com a qualidade do serviço. Antigamente, tinham várias empresas querendo oferecer um melhor ecoturismo, mudar a imagem para o cliente, só que não existia uma associação.

Existiam algumas empresas que tentavam se associar, mas nada vingou. Para o surgimento da ABETA, o governo deu uma empurradazinha na gente, pois era importante nos associarmos. Não tínhamos um segmento forte e com uma representação.

Lá fora o Brasil nem tinha produto de ecoturismo. Uma coisa é falar que tem potencial, mas e o produto. A ABETA entrou justamente em um período que o governo já estava dando uma atenção maior para o segmento e as empresas já tinham certa maturidade para entender tudo isso.

PPOW: O que foi necessário para sua implantação?

As empresas tiveram que adotar um novo padrão, e principalmente priorizar a segurança. O básico é oferecer um serviço de qualidade, com segurança total. Essa era uma preocupação muito grande do governo, do ministério, pois um acidente em uma atividade de aventura poderia interferir bastante.

Em um primeiro momento da ABETA, teve todo um processo de qualificação das empresas, com o projeto Aventura Segura. Cumprida essa primeira etapa, agora continuamos, existe cerca de 100 empresas que já estão certificadas no Brasil todo. Mas não é simplesmente conseguir a certificação e pronto, é preciso manter essa certificação, então o trabalho continua.

Começamos uma nova etapa agora com diversos cursos pelo Brasil, no projeto Bem Receber Copa. A ABETA se preocupa com a qualidade dos serviços, em ajudar as empresas a manter essa qualidade no dia a dia, e melhorar essa capacitação de condutores, todos os detalhes.

PPOW: O que uma empresa precisa para se associar a ABETA?

Para a empresa se associar, nós temos alguns critérios definidos e a empresa tem que trabalhar com ecoturismo, não pode ser uma que trabalha com turismo massificado.

Cada empresa pode ter a sua especialidade, de um turismo com atividades de aventura, da mais tranquila a mais radical, só que precisa ter a mesma filosofia, com a preocupação em segurança total, seguindo todas as normas que foram planejadas pela ABETA.

Confira a segunda parte da entrevista!