Um dos estados de espírito mais mal interpretados dentro da amplidão do comportamento humano é a angústia, sempre vista de forma negativa, como um distúrbio ou erro de conduta, a ponto de se falar em ajuda profissional, como ouvi recentemente de alguém, preocupado com as atitudes de um irmão.

Quando não é nada disso, ainda que traga uma intensa sensação opressiva quando nos domina e requeira, evidentemente, atenção para a busca de sua causa, como tudo o que nos invade a alma.

Heidegger, o monumental filósofo alemão, insistia que “a angústia é o preço da liberdade de pensamento”.  E essa se tornou uma das minhas frases de cabeceira, para consultar e rever sempre que houver dúvidas a respeito. Eis porque faz parte da condição humana e não pode ser dissociada da inteligência.

Realmente, só não se angustiam os néscios, os limítrofes, os que possuem um quociente de inteligência muito baixo, ou aqueles que nada questionam como mecanismo de defesa ou, quem sabe, norma de conduta. Ou os muitos oprimidos, os fúteis ao extremo, os dominados sem perceber e durante um período, os autoenganados.

Pensar, questionar-se, autodiscutir dilemas e dúvidas, ter coragem de se enfrentar diante do espelho sobre os muitos erros e os possíveis acertos, dar de cara com a acomodação, assumir incompetências, é sempre e sempre se angustiar.

Ela vem quando a realidade deixa de nos preencher e nos sentimos vazios, por mais que estejam acontecendo coisas à volta, por maior o número de atividades ou mesmo a busca de aturdimentos para não enxergar que está faltando algo fundamental em nossa vida: a motivação para continuar.

Eis porque, apesar da dor, da sensação indefinida de opressão que a angústia traz, ela é altamente benéfica. Quando entendida e assumida. O duro é agüentar o estado de evasão que nos traz. Mas não há ninguém inteligente e lúcido, que tente não mentir para si mesmo, que lute para ser honesto com o próprio Eu, que não a sinta de vez em quando, ainda que de forma incerta, sufocante, estreita.

Não é àtoa que vem do latim “angustus”, que significa estreito. Cabe-nos alargá-la buscando caminhos, tentando novas escolhas pela vida, o que por sua vez poderá trazer novos preenchimentos e então, satisfazer finalmente.

Assim ela vai embora e o céu volta a ser azul. E sentimos a delicia dos estados de espírito de felicidade. O sabor da conquista. E então, achamos a vida e linda e o Bem, às nossas mãos. Tornamo-nos leves, um tanto etéreos, mas também um tanto cautelosos, porque sabemos que ela volta sempre, trazendo em seu bojo, o sufoco que oprime, mas também o alerta de que estamos vivos e saudavelmente exigentes com os apelos que podem nos conduzir à evolução.