Aliado a atividades, amplia limites impostos pela “idade outonal”

Em seu livro Anatomia Emocional, Stanley Keleman mostra bem a importância do espaço para o ser humano. Espaço interno para o movimento dos nossos tubos e canais e, externo, para o movimento dos órgãos e da abertura mental que o homem precisa ter em sua dimensão de existência. Tese comprovada pela Universidade Columbia, nos Estados Unidos, ao afirmar, depois de dez anos de estudos e pesquisas, o quanto as pessoas idosas precisam desse espaço para não se sentirem prisioneiras da própria decadência física, por si só, um confinamento tirânico.

Entrevistando pessoas de mais de setenta anos e acompanhando-as com testes comportamentais, a equipe responsável percebeu que os idosos que mantêm suas casas e quintais, que cuidam de seus jardins ou que vivem no campo, a  par de um razoável cansaço físico pela manutenção exigida, estão muito melhores do que aqueles que se prendem num flat mínimo, numa quitinete ou em quartos minúsculos de residenciais para terceira idade.

O respeitável trabalho, publicado em vários jornais e revistas americanos, caiu como uma bomba, considerando que a vida atual propõe exatamente o contrário: que as pessoas deixem suas casas e apartamentos maiores à medida que vão ficando solitárias em troca de espaços menores que lhes dêem menos trabalho, geralmente por pressão dos filhos ou familiares, preocupados em garantir segurança e descanso. Uma proposta que vem se tornando uma norma, como se uma pessoa, a partir de um determinado momento da existência, não pudesse mais habitar com largueza e conforto, mesmo em não havendo a necessidade financeira, o que elimina qualquer discussão. Com isso, surge uma “não permissão” do idoso a si mesmo em usufruir daquilo que conquistou, acabando por levá-lo à mesquinhez e ao fechamento de sua visão mental em torno do restrito.

Como diz lindamente Lourenço Prado, em seu Alegria e Triunfo, “todo homem possui a terra que está ao alcance de sua visão mental”. François Villet, que se intitula um “comportamentalista interessado na idade outonal” (só mesmo os franceses para usarem expressão tão sutil e doce), questiona dois tabus com referência à idade: por que não deixar os idosos se cansarem um pouco em cuidar da casa e do quintal? Não é melhor isso, que obriga ao exercício físico, do que deixá-los mofar dia e noite diante da televisão? E por que querer eliminar da vida deles qualquer preocupação, deixá-los à margem dos problemas familiares, como se fossem bonecos ou débeis mentais? Se esses questionamentos, ainda que dolorosos, ajudam os quadros mentais a se manterem ativos?

Qual a razão da sociedade moderna, afinal, de aposentar as pessoas da vida, sob a desculpa esfarrapada de poupá-las? No fundo, no fundo, é o tal comodismo, o medo de ter que ajudar, de colaborar em tarefas ou atuar em emergências. Está certo, Oscar Niemeyer, do alto de seus 103 anos, ao dizer: “O importante é sentir-se útil e usar da melhor maneira todos os espaços que nos são concedidos”.

Foto: Alessandra Przirembel Angeli © I stop for photographs